Ok, não vou negar que muita coisa
foi feita e que, sim, houve evolução nos últimos dez anos no quesito
sustentabilidade corporativa. Mas também não vou negar que o resultado é
infinitamente aquém da expectativa que se tinha a partir do que vinha sendo
discutido e proposto nos anos 90 para os 10, 15 anos seguintes.
Não estou falando do esvaziamento da área ocasionado pela crise
mundial que assola o mundo desde 2008. Falo das expectativas criadas para a década
de 2000 e que simplesmente não se concretizaram. Não se concretizaram em muito
por conta da ilusão do dinheiro fácil criada por bancos de investimento que fizeram roleta russa
com alguns dos principais mercados econômicos do mundo (Ok, esses mercados
também tiveram sua parcela de culpa).
Mas façamos uma análise crítica da
sustentabilidade dentro das empresas nos últimos 15 anos. Relativa eficiência
operacional proporcionada por fatores sociais e ambientais dentro de um mesmo
contexto de gestão empresarial, muita comunicação para a sustentabilidade e
GRI. Basicamente. Aliás, nunca antes da história desse planeta viu-se um
engajamento tão forte como o comprometimento das empresas em ter um relatório
de sustentabilidade para chamar de seu.
Peguemos os relatórios. Ao questionar
sobre quando seriam cobrados indicadores de sustentabilidade atrelados ao
negócio, a resposta que tive de gente ligada à GRI foi que era uma
iniciativa que deveria partir das empresas. Essa resposta me fora dada há menos
de um mês. Pergunto: há quanto tempo existe a GRI? Resposta: 16 anos. Convenhamos
que se em 16 anos as empresas não tomaram essa iniciativa, enquanto não forem cobradas, vai tudo continuar do jeito que está.
Os anos 2000 foram um boom de comunicação da sustentabilidade.
Ok, faz parte do processo de amadurecimento. Pergunto a vocês: das principais empresas brasileiras ou que
atuam no Brasil, quantas delegam,
hoje, a sustentabilidade à área de comunicação ou assuntos corporativos?
Posso fazer uma lista praticamente infinita.
Analisemos: qual o propósito da
área de comunicação das empresas? Para não me equivocar, busquei na internet
várias definições para o setor e para resumir as que encontrei, digo que o
objetivo da comunicação corporativa é cuidar da reputação da empresa de forma a
obter apoio e influenciar a opinião e comportamento junto às partes
interessadas. Ou seja, reputação e imagem junto aos stakeholders.
Absolutamente nada contra esse
propósito de comunicação. Mas o assunto aqui é outro. E aí pergunto: qual o
papel da sustentabilidade quando ela responde para a área de comunicação? Reputação
e imagem. E qual o verdadeiro potencial da sustentabilidade? Engenharia, processos,
finanças, inteligência competitiva, novos mercados, inovação, novas fontes de
renda, redução de custo e risco etc etc etc. Ah, reputação e imagem também.
Também.
Há anos vem se falando das externalidades.
O que significa em termos de negócio, em termos de risco, uma Unilever da vida
dizer no relatório de sustentabilidade que gasta x litros de água por ano em
seus processos produtivos (sabendo a água é um bem escasso e que não se paga
pelo seu consumo)? O que significa para uma Vale reportar a supressão vegetal
de x km² para botar em operação uma unidade produtiva (e com isso dizimar fauna
e flora de uma região)? Alguém tem essa resposta hoje? Porque isso já se discute há mais de 20 anos!
Tentou-se na década passada
estabelecer um mercado de crédito de carbono. Não deu certo. Mas acreditem em mim, vão ter de fazer dar certo. Se a produção industrial continuar
(ainda que em crise) como está, em 2030 a temperatura aumentará 2 graus. Ninguém
sabe, de fato, o que isso significa tanto em termos sociais/ambientais, quanto econômicos
e empresariais.
Numa época em que se procura
viabilidade financeira para as energias renováveis, os EUA colocam na
exploração do gás de xisto (mais sujo que o petróleo) a esperança para a
retomada da sua economia. O carro elétrico chega ao mercado com o status de
salvador da pátria, sendo que desde meados dos anos 90 tem-se o protótipo de carro com
a mesma segurança e desempenho, mas com a metade do peso dos carros atuais e
mais do que o triplo de eficiência de combustível. E pior, o carro elétrico chega quando o modelo de mobilidade individual mostra-se falido e INVIÁVEL às grandes cidades.
A questão é que por mais que na
teoria a sustentabilidade corporativa seja linda, ela não passará de promessa
enquanto não se mudar o modelo mental das pessoas e o modelo de gestão das
empresas. E não, o que a maioria das empresas (dizem que) fazem está longe de
ser sustentabilidade. Pode ser relacionamento institucional, compensação
ambiental, governança corporativa, legitimação social, marketing de
causa/social/sustentável, licença para operar, mas muito pouco está sendo feito de sustentabilidade, apesar de há muitos
anos existir a discussão e o conhecimento.