Há dois anos em discussão, em maio
de 2013 foi, finalmente, levado a público a nova proposta de relatório de
sustentabilidade da GRI, o modelo G4. Muita gente aponta as mudanças
metodológicas que aconteceram, principalmente o fim da sopa de letrinhas que
eram os níveis de aplicação, como a quebra de um paradigma.
Sinceramente?
Mais do mesmo. O fim dos níveis A, B e C simplesmente veio para acabar com o
festival de manipulação promovido por várias empresas. Já escrevi aqui como se
manipula um relatório A+ (nível máximo de reporte de indicadores, chancelado
por auditoria externa)? Não? É a coisa mais fácil do mundo. E não precisa nem da
conivência das auditorias!
O fim da
manipulação não significa melhor qualidade nos reportes. A diferença é que
agora vai ficar menos trabalhoso fazer o relatório, já que sem os níveis de
aplicação, um item de reputação tão desejado pelas empresas (o símbolo A+)
simplesmente perdeu o sentido. Para o G4 tanto faz o reporte de 90 ou 10 indicadores.
A única exigência é que os indicadores reportados façam sentido para a empresa.
A intenção
é boa. Reportando apenas o que é importante, pode-se pensar em planejamento
estratégico da área. A matriz de materialidade, há muito já presente nos
modelos de relatório GRI, ganha, finalmente, status de relevância. Mas tenho um
pé atrás se as empresas tratarão o tema com a devida importância.
Definir a
materialidade da sustentabilidade não é escrever os indicadores no papel, colocá-los
num saco e sortear os que serão reportados no relatório. Definir a
materialidade da sustentabilidade é fazer uma análise profunda da empresa e com
base em critérios muito sérios apontar aqueles indicadores que, independente do
resultado apresentado, são importantes para o negócio.
Outra questão-chave
do modelo G4, e certamente a mais decepcionante, é que a GRI nunca integrou os
indicadores de sustentabilidade a indicadores de negócio. O que os entusiastas
podem falar é que há, sim, espaço para o reporte da performance dos
indicadores. Sim, há. Há espaço para se dizer o quanto aquele indicador
melhorou ou piorou e o que foi feito.
Mas o
buraco é mais embaixo. Não é gestão de indicadores que eu falo. E sinceramente,
isso é irrelevante. Uma empresa pode dar a desculpa de aumento de produção para
justificar a piora de um indicador. Falo de gestão empresarial sob o ponto de
vista dos indicadores da sustentabilidade.
Por exemplo:
o que significa para uma empresa, pela perspectiva dos negócios, a redução na
emissão de gases do efeito estufa ou, financeiramente falando, o que significa
a redução no consumo de energia ou de água? Ou, melhor ainda, o quanto se
reduziu de externalidades por conta de um menor volume de resíduos gerados?
Sinceramente,
só não perco a esperança de ver a sustentabilidade ser levada realmente a sério
pelas empresas porque há uma proposta de integração dos relatórios
(sustentabilidade e financeiro). Quando se fala de dinheiro a coisa muda
completamente de figura. Só espero que essa proposta saia logo do plano de intenção.
Enquanto
isso não acontece, ficamos com o GRI alardeando mais do mesmo, as empresas
utilizando seus relatórios como ferramenta única de reputação e empresas como
Vale e EBX dizimando suas áreas de sustentabilidade sem o menor pudor.
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