segunda-feira, 17 de junho de 2013

Uma breve análise crítica sobre o modelo GRI G4


Há dois anos em discussão, em maio de 2013 foi, finalmente, levado a público a nova proposta de relatório de sustentabilidade da GRI, o modelo G4. Muita gente aponta as mudanças metodológicas que aconteceram, principalmente o fim da sopa de letrinhas que eram os níveis de aplicação, como a quebra de um paradigma.

Sinceramente? Mais do mesmo. O fim dos níveis A, B e C simplesmente veio para acabar com o festival de manipulação promovido por várias empresas. Já escrevi aqui como se manipula um relatório A+ (nível máximo de reporte de indicadores, chancelado por auditoria externa)? Não? É a coisa mais fácil do mundo. E não precisa nem da conivência das auditorias!

O fim da manipulação não significa melhor qualidade nos reportes. A diferença é que agora vai ficar menos trabalhoso fazer o relatório, já que sem os níveis de aplicação, um item de reputação tão desejado pelas empresas (o símbolo A+) simplesmente perdeu o sentido. Para o G4 tanto faz o reporte de 90 ou 10 indicadores. A única exigência é que os indicadores reportados façam sentido para a empresa.

A intenção é boa. Reportando apenas o que é importante, pode-se pensar em planejamento estratégico da área. A matriz de materialidade, há muito já presente nos modelos de relatório GRI, ganha, finalmente, status de relevância. Mas tenho um pé atrás se as empresas tratarão o tema com a devida importância.

Definir a materialidade da sustentabilidade não é escrever os indicadores no papel, colocá-los num saco e sortear os que serão reportados no relatório. Definir a materialidade da sustentabilidade é fazer uma análise profunda da empresa e com base em critérios muito sérios apontar aqueles indicadores que, independente do resultado apresentado, são importantes para o negócio.

Outra questão-chave do modelo G4, e certamente a mais decepcionante, é que a GRI nunca integrou os indicadores de sustentabilidade a indicadores de negócio. O que os entusiastas podem falar é que há, sim, espaço para o reporte da performance dos indicadores. Sim, há. Há espaço para se dizer o quanto aquele indicador melhorou ou piorou e o que foi feito.

Mas o buraco é mais embaixo. Não é gestão de indicadores que eu falo. E sinceramente, isso é irrelevante. Uma empresa pode dar a desculpa de aumento de produção para justificar a piora de um indicador. Falo de gestão empresarial sob o ponto de vista dos indicadores da sustentabilidade.

Por exemplo: o que significa para uma empresa, pela perspectiva dos negócios, a redução na emissão de gases do efeito estufa ou, financeiramente falando, o que significa a redução no consumo de energia ou de água? Ou, melhor ainda, o quanto se reduziu de externalidades por conta de um menor volume de resíduos gerados?

Sinceramente, só não perco a esperança de ver a sustentabilidade ser levada realmente a sério pelas empresas porque há uma proposta de integração dos relatórios (sustentabilidade e financeiro). Quando se fala de dinheiro a coisa muda completamente de figura. Só espero que essa proposta saia logo do plano de intenção.

Enquanto isso não acontece, ficamos com o GRI alardeando mais do mesmo, as empresas utilizando seus relatórios como ferramenta única de reputação e empresas como Vale e EBX dizimando suas áreas de sustentabilidade sem o menor pudor.


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