Muita gente aponta as empresas
como as grandes vilãs do meio ambiente e da sustentabilidade em geral, mas levo
a questão para um nível mais profundo e pergunto: e nós, consumidores, o quanto
somos responsáveis? Não estou falando do consumo consciente, de redução,
reutilização, muito menos de reciclagem. Falo, literalmente, do preço a se
pagar pela sustentabilidade.
Lembremos o enredo de uma
história recente: o Wal-Mart por anos e anos e anos teve problemas relacionados
à exploração do trabalho. A Nike em meados da década de 90 foi acusada de ser
conivente com o trabalho escravo na Ásia. A Friboi tomou um solavanco do
Greenpeace, que disse que a carne oriunda da região norte era proveniente de
desmatamento. E por aí vai...
Some às lembranças um fato bem
cruel do sistema capitalista e não tem hipócrita pintado de verde que conseguirá
provar o contrário: independente custo de produção de um produto e do quanto o
consumidor é sensível a preço, somente em último caso o “patrão” vai se dispor
a perder margem de lucro.
Mas e quando a empresa quer ir
por um caminho mais fácil, mais rápido e menos trabalhoso? O que ela faz para
se manter competitiva num mercado cada vez mais comoditizado, principalmente na
economia atual, globalizada, e, onde a classe C aumentou consideravelmente o seu
consumo ao mesmo tempo em que é muito sensível a preço?
Voltando três parágrafos, repito:
somente em caso de morte os patrões/acionistas se disporão a ter perdas na
margem de lucro. O corte começa no cafezinho, passa por redução de benefícios, downsizing, chega na cadeia de
fornecedores (quebrando-os muitas vezes), na troca de matérias primas por
outras de qualidade inferior e procedência duvidosa, terceirização e precarização do trabalho (quando
não a utilização de mão de obra análoga à escrava), degradação ambiental, conflitos
sociais...
Não estou tirando as empresas da
reta, afinal, muitas ainda seguem a máxima do Milton Friedman, de que a
responsabilidade social das empresas se resume ao aumento do lucro. Já ouvi,
até gente grande dentro de empresa grande falando que responsabilidade social corporativa/sustentabilidade
é pagar imposto.
Acontece que o lucro a qualquer
preço simplesmente mostra-se inviável em um cenário futuro de não muito longo
prazo. Só que não sejamos cínicos; essa responsabilidade ou a culpa de como
está não o mercado não é só das empresas. É nossa também enquanto consumidor. Então,
por mais que não esteja escrito em rótulos de produtos, vale a reflexão do quanto
a nossa conivência por preços baixos estimulam a insustentabilidade
corporativa.
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