segunda-feira, 29 de abril de 2013

O rumo da sustentabilidade corporativa brasileira até 2050


Inspirada no Vision 2050 – the new agenda for business, do WBCSD (World Business Council for Sustainable Development), o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável) lançou na Rio+20 a versão brasileira do estudo que tem por objetivo apresentar a visão de um futuro sustentável e de como é possível alcançá-lo tendo como premissa nove temas.

O estudo é longo e tem vários direcionamentos. Prometo voltar a ele em outras ocasiões, mas por agora quero chamar atenção para dois pontos específicos, que são cruciais em longo prazo, mas que precisam ser tratados imediatamente. O primeiro, obviamente, é relativo às mudanças climáticas.

Apesar de ser apontado como problema há mais de uma década, foi somente por agora que o aquecimento global deixou de ser tratado como tema de ficção científica. Sim, é gravíssimo (arriscaria a dizer que é o problema mais grave da sustentabilidade) e desencadeia uma série de outros problemas. Exemplo: alguém consegue relacionar mudanças climáticas à violência? Entre no detalhe dos porquês e verá. Se não conseguir, me avisa que eu explico. Do ponto de vista corporativo, o que temos feito em relação a isso? Pouco. Muito pouco.

Quanto a Petrobras ou qualquer outra empresa oil & gas investe em matéria prima alternativa ao petróleo? Quanto da nossa matriz energética vem de fonte renovável e quanto passou a vir de termoelétrica nos últimos anos? Qual percentual da nossa malha logística vem de transporte ferroviário e quanto vem do transporte rodoviário? Qual foi o percentual de crescimento do número de automóveis no país de 2000 para cá? Aliás, quais foram os setores mais beneficiados nos três últimos ciclos presidenciais (incluindo o atual)?

Outro tema importante é a questão do custo ambiental, que ainda hoje as empresas fingem que não existe. Seguindo um modelo de gestão do inicio do século passado, as empresas se instalam em determinada região, retiram o que dá pelo tempo que for possível. Acabou, fecham as portas em busca de outro local, repetindo a fórmula. Ok, com a ascensão da área de relações institucionais, agir assim soa meio exagerado. Mas não se engane, apesar de ter algumas empresas minimizando o problema, é assim que ainda acontece na maioria das vezes.

Acontece que num mundo onde a matéria prima está cada vez mais escassa e cara e os recursos naturais cada vez mais finitos, empresas, governo e sociedade ainda não pararam para contabilizar o custo da insustentabilidade. Do ponto de vista social, qual o impacto da poluição no sistema de saúde? Do ponto de vista financeiro, quanto isso custa para as empresas por conta do absenteísmo e queda de produtividade?

Quanto custa para as empresas o problema da mobilidade urbana? O quanto esse problema pode gerar violência (opa, lembra lá em cima da relação mudanças climáticas x violência? A lógica é quase a mesma!) Qual o impacto para uma empresa de bebidas, por exemplo, quando se passar a cobrar mais do que o simples direito ao uso de água e uma cerveja comum tiver de ser vendida a, sei lá, a quinze reais o litro? O modelo de negócios ainda será viável?

A questão é que, sejamos realistas, muito pouco vem sendo feito pelas empresas brasileiras em relação à sustentabilidade. Apesar de ser visto como longo prazo, 2050 é logo ali. E mesmo sabendo da proximidade, ainda não demos conta do quanto já pagamos caro pela insustentabilidade (alô tomate!) e do quanto esse preço só vai aumentar no decorrer dos anos.

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