Inspirada no Vision 2050 – the new agenda for business, do WBCSD (World Business Council for Sustainable
Development), o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentável)
lançou na Rio+20 a versão brasileira do estudo que tem por objetivo apresentar
a visão de um futuro sustentável e de como é possível alcançá-lo tendo como
premissa nove temas.
O estudo é longo e tem vários direcionamentos.
Prometo voltar a ele em outras ocasiões, mas por agora quero chamar atenção
para dois pontos específicos, que são cruciais em longo prazo, mas que precisam
ser tratados imediatamente. O primeiro, obviamente, é relativo às mudanças climáticas.
Apesar de ser apontado como
problema há mais de uma década, foi somente por agora que o aquecimento global deixou
de ser tratado como tema de ficção científica. Sim, é gravíssimo (arriscaria a
dizer que é o problema mais grave da sustentabilidade) e desencadeia uma série
de outros problemas. Exemplo: alguém consegue relacionar mudanças climáticas à
violência? Entre no detalhe dos porquês e verá. Se não conseguir, me avisa que
eu explico. Do ponto de vista corporativo, o que temos feito em relação a isso?
Pouco. Muito pouco.
Quanto a Petrobras ou qualquer
outra empresa oil & gas investe em matéria prima alternativa
ao petróleo? Quanto da nossa matriz energética vem de fonte renovável e quanto passou
a vir de termoelétrica nos últimos anos? Qual percentual da nossa malha
logística vem de transporte ferroviário e quanto vem do transporte rodoviário? Qual
foi o percentual de crescimento do número de automóveis no país de 2000 para
cá? Aliás, quais foram os setores mais beneficiados nos três últimos ciclos
presidenciais (incluindo o atual)?
Outro tema importante é a questão
do custo ambiental, que ainda hoje as empresas fingem que não existe. Seguindo um
modelo de gestão do inicio do século passado, as empresas se instalam em determinada
região, retiram o que dá pelo tempo que for possível. Acabou, fecham as portas
em busca de outro local, repetindo a fórmula. Ok, com a ascensão da área de relações institucionais, agir assim soa meio
exagerado. Mas não se engane, apesar de ter algumas empresas minimizando o
problema, é assim que ainda acontece na maioria das vezes.
Acontece que num mundo onde a
matéria prima está cada vez mais escassa e cara e os recursos naturais cada vez
mais finitos, empresas, governo e sociedade ainda não pararam para contabilizar
o custo da insustentabilidade. Do ponto de vista social, qual o impacto da
poluição no sistema de saúde? Do ponto de vista financeiro, quanto isso custa
para as empresas por conta do absenteísmo e queda de produtividade?
Quanto custa para as empresas o
problema da mobilidade urbana? O quanto esse problema pode gerar violência
(opa, lembra lá em cima da relação mudanças climáticas x violência? A lógica é
quase a mesma!) Qual o impacto para uma empresa de bebidas, por
exemplo, quando se passar a cobrar mais do que o simples direito ao uso de
água e uma cerveja comum tiver de ser vendida a, sei lá, a quinze reais o
litro? O modelo de negócios ainda será viável?
A questão é que, sejamos
realistas, muito pouco vem sendo feito pelas empresas brasileiras em relação à
sustentabilidade. Apesar de ser visto como longo prazo, 2050 é logo ali. E
mesmo sabendo da proximidade, ainda não demos conta do quanto já pagamos caro
pela insustentabilidade (alô tomate!) e do quanto esse preço só vai aumentar no
decorrer dos anos.
Para ler o estudo completo: http://www.cebds.org.br/media/uploads/pdf/visao_brasil_2050_-_vfinal.pdf
Versão e-book: http://www.cebds.org.br/static/ebook