Já escrevi aqui há algum tempo
sobre a ascensão da classe C e o desafio do consumo sustentável. Do ponto de
vista do marketing e da sustentabilidade, além desse, há outro desafio, que é,
inclusive, o ponto crucial para profissionais da área no longo prazo: como
fazer com que a sustentabilidade chegue ao consumidor médio, aquele que tem um consumo
padrão e é pouco suscetível a causas?
Hoje, quando atrelamos a
sustentabilidade como o principal fator de compra de um produto, estamos “condenando”
ela a alcançar não mais do que um nicho de mercado. Não existe (que eu saiba)
pesquisa no Brasil direcionada a esse público (alô empresas, olhem o gap!),
portanto não saberia dizer como isso se traduz em market share ou faturamento.
No entanto, o perfil desse consumidor não difere muito do restante do mundo.
E quem seria, então, o consumidor
de produtos sustentáveis? Basicamente é um consumidor que associa o conceito à
saúde, tem renda mais alta que a média, é menos sensível a preço e está
disposto a abrir mão de certos confortos e praticidades em prol da sustentabilidade.
Alguém imagina o tamanho desse mercado no aqui?
Apesar do perfil entre os países
não apresentar grandes disparidades, o que difere é o tamanho de cada mercado.
E isso se deve, principalmente, ao nosso nível de engajamento. Independente da
classe C brasileira já passar dos 50%, tem uma parte da outra fatia que poderia
perfeitamente consumir produtos sustentáveis, mas não faz por não querer abrir
mão de certos valores, digamos, insustentáveis. Conquistar esse consumidor é o desafio.
Mesmo sem um estudo dirigido,
diria que o tamanho do mercado de produtos sustentáveis no Brasil não passa de
5%. Então, caros profissionais de marketing, vocês hão de convir que utilizar a
sustentabilidade como O apelo para a
marca não é eficaz. Ops, peraí... como assim uma pessoa que trabalha com
sustentabilidade fala que a sustentabilidade não é argumento que venda de produtos?
Gente, sejamos realistas. O
consumidor médio, aquele que dá faturamento e market share para as empresas,
acha que sustentabilidade é complicada, cara e só a associa à questão
ambiental. Falta educá-lo sobre o assunto. E mesmo depois de educado, ele não
vai optar pela sustentabilidade em preterimento à qualidade, à funcionalidade e,
ainda que possa se pagar, ao preço. É ingenuidade um profissional de marketing acreditar que a sustentabilidade se sustenta sozinha.
A sustentabilidade deve ser tratada
como mais um dentre os tantos benefícios que um produto oferece. Ela serve como diferencial, não como argumento. Por
isso a questão do ciclo de vida do produto se torna mais do que fundamental. E é principalmente por isso não tem
como dissociar a sustentabilidade da área de inovação.
Aí, quando as empresas se
atentarem de que a sustentabilidade é fator de integração entre os processos e
eficiência operacional, o preço deixará de ser uma barreira. E aí, quando as
empresas EDUCAREM o consumidor para
o uso de produtos sustentáveis ou para o uso de forma sustentável, o ciclo de
vida se fecha e a sustentabilidade é alcançada plenamente.
Impossível? Não.
Difícil? Certamente. O que falta, então? Algo bem simples: vontade das empresas
de saírem da zona de conforto e fazerem um marketing de produto menos óbvio.