sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Porque afinal, nós somos brasileiros!


Na terça-feira passada a Coca-Cola lançou a campanha do mascote da Copa de 2014. Ainda não sabemos como ele será, mas a proposta é que ele seja embaixador da nossa brasilidade. Conduzido pelo designer de conversação Luiz Algarra, o encontro com blogueiros procurou debater sobre o tema com a pergunta do milhão: quem é o mais brasileiro dos brasileiros? Obviamente ninguém chegou a uma conclusão.

E aí, que para esse encontro, foi convidado ninguém menos do que aquele que, em minha opinião, é o que, possivelmente, tem mais conhecimento de causa para falar de Brasil e brasilidade: Maurício Kubrusly. E aí que a pergunta do milhão foi feita a ele, que também não soube dar uma resposta precisa. É claro!

E aí, vendo e participando de todo o debate gerado, de toda a diversidade levantada e toda a dificuldade em se buscar uma unidade, me lembrei do meu TCC, cujo tema foi, justamente, cultura brasileira. E aí me lembrei do capítulo final, onde tentei mostrar quem é, afinal, o brasileiro. De lá para cá, passamos por muitas mudanças sociais, políticas e econômicas, mas relendo o texto, percebi que o espírito permanece o mesmo e acho que é isso que marca tanto a nossa brasilidade.

Para não me alongar muito, deixo vocês com a minha tentativa não de dizer quem é o mais brasileiro dos brasileiros, mas, apenas, o que é o brasileiro. Aproveito e deixo, também, o convite para conhecer o aplicativo da Coca-Cola no Facebook onde você pode deixar o seu recado sobre brasilidade: https://apps.facebook.com/futebolcocacola/

Outras percepções sobre o encontro e brasilidade:  http://vivapositivamente.cocacolabrasil.com.br/

Foto: momento Rá dos participantes do encontro
Crédito: Ester Tambasco

Porque afinal, nós somos brasileiros! 

Historicamente somos conhecidos como o país de mulheres sensuais, do carnaval e do futebol. Somos tidos como um país sem preconceito, da pluralidade racial, do "marrom bombom" e do "moreno cor de jambo". Somos o país do "jeitinho", do "você sabe com quem está falando?", do "Doutor, deixa um dinheirinho para a cerveja!"

O Brasil se divide entre o oficial e o oficioso. Oficial, desde que não seja conosco! A sociedade brasileira é, naturalmente, indisciplinada, libidinosa, musical. Mais do que construir, queremos consumir a vida. O brasileiro tem humor, tem vocação para o prazer; nasceu para ser feliz. Nossos gestos são soltos, espontâneos. Somos pura emoção! 

Vivemos no país das ruas estreitas, da proximidade, do toque, do calor humano. Transformamos até a nossa língua em algo intimista. Somos o país do "amorzinho", do "bonitão". Cultuamos o chope e procuramos dar um tempo antes de voltar para o "batente". Choramos. De alegria, de tristeza. Choramos quando ocorrem as tragédias, mas essas lágrimas de dor são logo substituídas por lágrimas de alegria quando ganhamos uma Copa do Mundo. 

Encantamos estrangeiros com a nossa feijoada, nosso acarajé, nossa farofa, nosso feijão com arroz. Somos o país das frutas tropicais, da acerola, do açaí, do abacaxi. Somos o Brasil, a república das bananas. Culturalmente temos aversão ao relógio. Marcamos um compromisso às dez para chegarmos às onze. Somos o país dos feriados e se eles caírem na terça ou na quinta já é motivo para festejar em dobro. Somos um país colorido, "abençoado por Deus e bonito por natureza." Somos o país das praças e das esquinas. Em pleno século XXI ainda somos um país machista. 

O brasileiro é irreverente, criativo. Somos facilmente identificados pelo mundo afora. Qualquer coisa é motivo para festa. Nem mesmo uma derrota é capaz de tirar o nosso ânimo. Ficamos tristes, é claro, mas fazemos com que a tristeza se transforme na esperança de que no futuro tudo será melhor. E basta uma caixa de fósforos para daí surgir um inesquecível samba. 

Temos vocação natural para construir ídolos, sejam eles da arte, do esporte, do cotidiano. Enche-nos de alegria saber que Oscar Niemayer é considerado um dos mais importantes arquitetos do século XX, que Frank Sinatra gravou um disco só com músicas da bossa nova e que Fernanda Montenegro é divina. 

O povo brasileiro reclama da política, mas continua votando nos mesmos representantes. Representantes estes que fazem do Brasil um país partido entre o sul e o resto, entre o asfalto e o morro, entre o pobre e o rico. No entanto, basta chegar fevereiro e durante quatro dias nada disso importa. Pobres, ricos, negros, brancos, mulheres, homens, todos juntos, na maior festa do país, que é o carnaval.

Há muito tempo somos chamados de "país do futuro", mas já "está na hora dessa gente bronzeada mostrar o seu valor". Esquecemos-nos de que esse futuro chegaria um dia e que esse dia é hoje. Somos um país despreparado e inexperiente. Talvez quinhentos anos não tenham sido suficientes para que deixássemos de cometer os mesmos erros de colônia.

Não somos mais o país das casas-grandes e das senzalas, mas sim dos sobrados e mocambos. Teimam em nos dizer que não existe mais o homem cordial. Mentira! Somos o país dos homens cordiais, o país das maíras, dos carnavais, dos malandros e dos heróis. Somos país da religiosidade; dos santos e dos orixás, das missas e dos cultos de candomblé. Somos um povo que vai à Missa do Galo no Natal, e no dia 31 de dezembro vai à praia vestido de branco receber bons fluidos para o ano que se inicia. 

Somos a sociedade da "maravilha da acomodação", que ganha a sua identidade com a conjunção de vários "ninguéns" da multidão, que fundaram o Brasil e que produzem nossas manifestações culturais. Pobre, rico, engravatado, mendigo, velho, jovem, engraxate, artista de rua, paulista, baiano, homem, mulher... todos colocam esses aparentes "antagonismos" em um equilíbrio que tem como síntese a Cultura Brasileira. 

Somos, enfim, o Brasil, lugar onde transformar dor em alegria, é realidade. A vida é dura e daí são tirados a maleabilidade, o jogo de cintura e o jeitinho, que nos tornam "um povo preparado para fazer uma nação feliz". Pisamos em cacos de vidro porque nossos pés são grossos da terra árida. Não somos "eles"; sempre temos nossas manifestações para sermos "nós". E não somos um país sério, graças a Deus!

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