Há pouco menos de dois anos escrevi
um post
falando do quanto estão banalizando a palavra sustentabilidade. Na ocasião,
mostrei um site que chamava de sustentabilidade uma ação social de doação para
uma instituição. Nem responsabilidade social era. Acontece que por esses dias
me deparei com outra situação ainda pior e o tema voltou à minha cabeça.
Ok, sustentabilidade está na
moda. Ok, sustentabilidade dá lucro. Ok, temos um (grande) gap em formação de
massa crítica para sustentabilidade. Mas há uma grande diferença entre
oportunidade e oportunismo. E por isso é fundamental que as pessoas tenham bom
senso e análise crítica ao se depararem com empresas anunciando produtos e
serviços relacionados à sustentabilidade.
Apesar de ainda ser nicho de
mercado, os produtos sustentáveis estão ganhando cada vez mais mercado. Muitas empresas,
percebendo a tendência, correm para lançar produtos com a chancela eco, amigo
do meio ambiente e coisas parecidas. Já escrevi especificamente sobre isso
em outra oportunidade.
Falando sobre o gap de formação
de sustentabilidade, vejo muitos, muitos cursos oferecidos por aí como mero
engodo. E pessoas muito bem intencionadas são enganadas com ofertas de
capacitação que não passam de caça-níqueis. Inclusive cursos chancelados por
universidades/faculdades bastante renomadas.
Soube por esses dias de um curso
de indicadores de sustentabilidade. Ok, que legal, pensei. É um assunto super
importante, de certa forma inovador e deixado para trás na hora de se pensar na
formação para a sustentabilidade. Acontece que quando pesquisei mais a fundo,
comecei a ver incoerências. O curso em questão é uma pós-graduação com carga
horária de 366 horas.
Façamos uma análise criteriosa
sobre o curso oferecido: indicadores de sustentabilidade. Mas será que o tema
se sustenta em um curso de 366 horas? Do ponto de vista corporativo, indicadores
são um pequeno pedaço do planejamento estratégico. Se provavelmente nem um
planejamento estratégico sustentável se sustenta em 366 horas de curso, o que posso
dizer de indicadores de sustentabilidade?
No site onde há a oferta do
curso, não achei a ementa, mas ainda que aumentemos o escopo para indicadores
voltados para desenvolvimento sustentável, não há justificativa para um curso
longo como esse. Para vocês terem uma ideia do que eu falo, na literatura
brasileira só há um livro voltado para o assunto. E mesmo assim é uma tese de
doutorado que virou livro.
O que será ensinado sobre indicadores de sustentabilidade que precisa ser passado em 366 horas?
Lembrando que, corporativamente
falando, não existe metodologia fechada de indicadores de sustentabilidade. O
que há é uma adaptação dos indicadores de sustentabilidade que acessamos via
GRI ou Ethos com o que o mercado utiliza para criar indicadores de performance
para negócio. É simples e não tem mistério. Em um curso de 24 horas se destrincha
até a alma do assunto.
Por isso, digo: não se deixem
enganar. Análise crítica é fundamental para qualquer profissional, de qualquer
área. E sendo a sustentabilidade uma relação de causa x efeito, essa
necessidade fica ainda mais evidente.
E para finalizar, deixo claro que
não conheço o curso, não sei quem é o coordenador, não sei quem são os docentes
e nem a ementa (que não está disponibilizada no site). Mas o que sei é que tem
um monte de gente fazendo um monte de coisas e colocando a sustentabilidade como
sobrenome apenas para agregar valor.
E não se esqueçam, agenda de
cursos de sustentabilidade (sem engodo e com direito a indicadores) da Agência
de Sustentabilidade:
Curso Panorama da Sustentabilidade
Corporativa no Rio de Janeiro dias 20 e 21 de julho – mais informações: http://migre.me/9G5YS
Curso de Planejamento Estratégico
Sustentável em São Paulo nos dias 27 e 28 de julho – mais informações: http://migre.me/9Jyfw