segunda-feira, 18 de junho de 2012

A logística reversa e o seu impacto nas empresas

O discurso de sustentabilidade é raso. Estamos comprovando isso com a Rio+20. O discurso da sustentabilidade corporativa é ainda mais raso. Vejo, por exemplo, várias pesquisas que apontam que para mais de 90% dos C levels a sustentabilidade é um imperativo para os negócios, que sustentabilidade está na estratégia da empresa e mais um monte de blá, blá, blá.

Acontece que quando cobramos um plano de ações, um cronograma, um prazo, a coisa muda de figura e muito do discurso se esvazia. A verdade é que as empresas ainda não sabem lucrar com a sustentabilidade. Não sabem ou não se interessam. Isso pouco tem a ver com longo prazo, mas sim com o pouco óbvio. Sustentabilidade é um assunto complexo. Muitas vezes o ganho gerado por ela não é explícito e exige muita gestão. Ou seja, dá trabalho.

O assunto da moda agora é economia verde, como se o conceito em que ele está imbuído fosse o suprassumo da inovação. Não é. É tema batido com roupagem nova. Inclusive acho o nome inapropriado. Mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é: como fazer com que o discurso sobre sustentabilidade seja mais profundo e, mais importante, gere ações que farão, efetivamente, a diferença?

Tenho lido e ouvido falar bastante sobre logística reversa. Tenho lido e ouvido falar bastante sobre política nacional de resíduos sólidos, principalmente no que diz respeito ao lixo eletrônico. O problema é que a visão rasa impede as empresas de olharem leis restritivas na perspectiva de negócio. O que é mais fácil: fazer a gestão ou o cálculo do quanto isso vai custar para o consumidor?

Acontece que a aparente simplicidade em apenas repassar o custo para o consumidor é um tanto quanto arriscado em um mundo apavorado com a crise dos países desenvolvidos e um país em que a classe em ascensão é extremamente suscetível a preço. Levando-se, ainda, em consideração que a tendência dos aparelhos eletrônicos é de queda de preço na medida em que novas tecnologias são postas no mercado, aumentá-los simplesmente por querer fazer o que é mais fácil, e não o melhor, pode ser um tiro no pé das empresas.

Mas qual o grande problema da logística reversa e da PNRS? No meu ponto de vista nenhum. No entanto, é muito mais do que apenas trazer de volta para a empresa aquilo que ela um dia distribuiu; vai muito além de uma coleta e um mero armazenamento. Até porque se for pensar assim, haja espaço para o estoque! E justamente por isso há um mundo de oportunidades quando falamos de gestão da logística reversa.

Poderia escrever ainda uns cinco parágrafos para tratar do assunto, mas, para resumir, deixo algumas perguntas que precisam ser consideradas numa gestão responsável atrelada à logística reversa. Se respondidas, possibilitam às empresas não apenas o cumprimento de leis, mas também ganhos monetários. Sem contar, é claro, com a realização plena da sustentabilidade.

  • Onde e como a empresa pode lucrar com a logística reversa?
  • Qual o potencial de ganho financeiro, o investimento necessário e o ROI da atividade?
  • Quais ganhos indiretos a atividade proporcionará?
  • Qual será a localização dos armazéns de forma que o custo de frete seja menor (e consequente menor depreciação dos meios de transporte, menor emissão de GEE, menor poluição, menor tempo em trânsito)?
  • Até quando estocar ou até que volume manter em estoque?
  • Qual o risco ambiental e social atrelado ao estoque e manejo dos produtos recolhidos (levando-se em consideração que equipamentos eletrônicos possuem componentes químicos perigosos)?
  • Como a área de TI pode suportar essa gestão de forma a reduzir custos, gerar eficiência operacional e melhorar o fluxo de informações?
  • Que estratégia adotar no relacionamento com cooperativas de catadores de material reciclável? E com as comunidades do entorno dos armazéns?
  •  Do material recolhido, o que pode ser reaproveitado no processo produtivo de novos produtos?
  • O que fazer com o material que não for reaproveitado no processo produtivo? Como lucrar com ele?
  • Como envolver e no que envolver os stakeholders (considerando, até, a concorrência) nessa gestão?

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