O discurso de sustentabilidade é
raso. Estamos comprovando isso com a Rio+20. O discurso da sustentabilidade
corporativa é ainda mais raso. Vejo, por exemplo, várias pesquisas que apontam que
para mais de 90% dos C levels a sustentabilidade é um imperativo para os
negócios, que sustentabilidade está na estratégia da empresa e mais um monte de
blá, blá, blá.
Acontece que quando cobramos um
plano de ações, um cronograma, um prazo, a coisa muda de figura e muito do
discurso se esvazia. A verdade é que as empresas ainda não sabem lucrar com a
sustentabilidade. Não sabem ou não se interessam. Isso pouco tem a ver com
longo prazo, mas sim com o pouco óbvio. Sustentabilidade é um assunto complexo. Muitas vezes o ganho gerado por ela não é explícito e exige muita gestão. Ou seja,
dá trabalho.
O assunto da moda agora é
economia verde, como se o conceito em que ele está imbuído fosse o suprassumo
da inovação. Não é. É tema batido com roupagem nova. Inclusive acho o nome
inapropriado. Mas isso não vem ao caso. O que vem ao caso é: como fazer com que
o discurso sobre sustentabilidade seja mais profundo e, mais importante, gere
ações que farão, efetivamente, a diferença?
Tenho lido e ouvido falar
bastante sobre logística reversa. Tenho lido e ouvido falar bastante sobre
política nacional de resíduos sólidos, principalmente no que diz respeito ao
lixo eletrônico. O problema é que a visão rasa impede as empresas de olharem
leis restritivas na perspectiva de negócio. O que é mais fácil: fazer a gestão
ou o cálculo do quanto isso vai custar para o consumidor?
Acontece que a aparente
simplicidade em apenas repassar o custo para o consumidor é um tanto quanto
arriscado em um mundo apavorado com a crise dos países desenvolvidos e um país
em que a classe em ascensão é extremamente suscetível a preço. Levando-se,
ainda, em consideração que a tendência dos aparelhos eletrônicos é de queda de
preço na medida em que novas tecnologias são postas no mercado, aumentá-los
simplesmente por querer fazer o que é mais fácil, e não o melhor, pode ser um
tiro no pé das empresas.
Mas qual o grande problema da
logística reversa e da PNRS? No meu ponto de vista nenhum. No entanto, é muito
mais do que apenas trazer de volta para a empresa aquilo que ela um dia
distribuiu; vai muito além de uma coleta e um mero
armazenamento. Até porque se for pensar assim, haja espaço para o estoque! E justamente por isso há
um mundo de oportunidades quando falamos de gestão da logística reversa.
Poderia escrever ainda uns cinco
parágrafos para tratar do assunto, mas, para resumir, deixo algumas perguntas
que precisam ser consideradas numa gestão responsável atrelada à logística
reversa. Se respondidas, possibilitam às empresas não apenas o cumprimento de
leis, mas também ganhos monetários. Sem contar, é claro, com a realização plena da
sustentabilidade.
- Onde e como a empresa pode lucrar com a logística reversa?
- Qual o potencial de ganho financeiro, o investimento necessário e o ROI da atividade?
- Quais ganhos indiretos a atividade proporcionará?
- Qual será a localização dos armazéns de forma que o custo de frete seja menor (e consequente menor depreciação dos meios de transporte, menor emissão de GEE, menor poluição, menor tempo em trânsito)?
- Até quando estocar ou até que volume manter em estoque?
- Qual o risco ambiental e social atrelado ao estoque e manejo dos produtos recolhidos (levando-se em consideração que equipamentos eletrônicos possuem componentes químicos perigosos)?
- Como a área de TI pode suportar essa gestão de forma a reduzir custos, gerar eficiência operacional e melhorar o fluxo de informações?
- Que estratégia adotar no relacionamento com cooperativas de catadores de material reciclável? E com as comunidades do entorno dos armazéns?
- Do material recolhido, o que pode ser reaproveitado no processo produtivo de novos produtos?
- O que fazer com o material que não for reaproveitado no processo produtivo? Como lucrar com ele?
- Como envolver e no que envolver os stakeholders (considerando, até, a concorrência) nessa gestão?