Ontem o governo federal anunciou
um novo pacote com o intuito de beneficiar a indústria. O sexto desde que
estourou a crise hipotecária nos Estados Unidos. Um pacote de mais de 60
bilhões que tem por objetivo promover o crescimento brasileiro para 4,5% neste
ano. Um pacote que desagradou empresários, economistas, sindicalistas. E pessoas que lidam com a sustentabilidade.
Este sexto pacote tratou de
medidas como desoneração, aumento do crédito, incentivo às exportações,
produção nacional de automóveis, dentre outras. Dos 127 setores da nossa
economia, o pacote contemplou benefícios a 11 deles. Ok, eles respondem por 20%
da produção nacional e 1/3 dos empregos. Mas não se iludam que o governo
deixará de arrecadar. Acreditem, haverá compensação de alguma forma e
possivelmente quem pagará a conta serão os setores não contemplados. Ou então nós,
cidadãos, enquanto pessoas físicas.
De forma muito breve, do ponto de
vista econômico, falo que, enquanto o dólar continuar sobrevalorizado, esse e
qualquer outro pacote vai servir, apenas, para tapar o sol com a peneira. Falo,
também, que enquanto continuarmos com a maior taxa real de juros mundo,
qualquer medida de incentivo vai soar como enxugar gelo.
Dos setores contemplados, dois,
particularmente, me chamaram a atenção: plástico e autopeças. E aqui vou praticamente
repetir o que já escrevi antes: desde o governo passado
acredita-se que desenvolvimento e crescimento do país sejam sinônimo de vender mais
carros.
Não, somos um país sem a menor
infraestrutura para transportes. Sim, temos um transporte público que beira a
piada e não atende a demanda das grandes cidades. Sim, fazemos parte de uma
cultura onde ter carro é status, independente do custo econômico, social e
ambiental. Sim, somos um país com alto endividamento das famílias. Sim, um carro
no Brasil custa mais do que o produzido aqui e exportado para o México (e isso
nada tem a ver com imposto).
O plástico. Não nos esqueçamos do
incentivo ao setor de plástico. Lembremos: petróleo – plástico – produtos que levam muito
tempo para decompor no meio ambiente. Uma vez, quando o governo fez pacote de
redução de IPI para a linha branca, o André Trigueiro falou com muita
propriedade que essa redução deveria ser atrelada apenas às linhas de produtos
ecoeficientes. Mas não foram.
Temos agora outra chance que
parece também estar indo para o ralo. Grandes indústrias como Basf e Braskem
investem em pesquisa e desenvolvimento do plástico biodegradável, que ainda não
é comercializado em escala por causa de seu alto custo. Pergunto: e se o
governo desonerasse setores da economia que estão focados em produtos e
processos sustentáveis, não seria mais justo, mais promissor e mais efetivo? E
será que lá na frente as futuras gerações não agradeceriam?
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