Há pouco menos de um ano e meio escrevi aqui no blog sobre a importância dos indicadores
e do ROI
para a sustentabilidade. Nas duas ocasiões, falei da importância de se
estabelecer padrões gerenciais à sustentabilidade e tratá-la como um processo
de negócios como outro qualquer, que tem compromisso com desempenho e com retorno
sobre o investimento.
Apontei que a maior dificuldade
para a nossa área era a construção de indicadores que fossem além de dados
financeiros. Não é nunca demais lembrar que a sustentabilidade corporativa trabalha,
fundamentalmente, com informações de qualidade. Informações difíceis de medir,
diga-se de passagem.
Como medir, por exemplo, o engajamento dos funcionários a respeito de sustentabilidade? Como medir percepção de valor gerado pela sustentabilidade? Como medir relacionamento com stakeholders? Não existe uma metodologia específica para se criar indicadores de sustentabilidade corporativa (as metodologias que falei nos textos indicados são, basicamente, de meio ambiente). Mas a dica que eu dou para se chegar ao indicador que melhor vai refletir o que se quer é ir entrando no detalhamento dos objetivos ou das ações com uma série de perguntas ou análise mais criteriosa.
Vamos ao exemplo de uma empresa que tem como
objetivo estratégico criar massa crítica para a sustentabilidade. Objetivo tático: criar programa de treinamento em sustentabilidade
para todos os níveis hierárquicos. Plano de ação: treinamento em
sustentabilidade para profissionais da operação.
Pela minha experiência e observação, digo
que profissionais de operação, que estão na linha de frente ou no chão das
fábricas, precisam de treinamento básico em sustentabilidade. Não aquele voltado para o negócio, mas o que fala da sustentabilidade atrelada ao nosso
comportamento. Coisas como descartar o lixo corretamente, não deixar máquinas ligadas
desnecessariamente, utilizar apenas um copo descartável no almoço etc.
Se olharmos rasamente para a
ação, o indicador óbvio de “sucesso” é a quantidade de pessoas treinadas. Mas aí
eu pergunto para vocês: esse indicador realmente reflete lá na frente o
objetivo estratégico? Ele vai me dizer que eu estou formando massa crítica para
a sustentabilidade? Não.
No entanto, quando a gente começa a
entrar no detalhe do porquê de se estar fazendo determinada ação, a resposta
fica mais clara. Neste caso, como indicador, eu usaria o volume de lixo
destinado à coleta seletiva. Ou a quantidade de copos plásticos utilizados no
mês. Ou qualquer outro que mostre o resultado efetivo da ação. Porque se o
volume de coleta seletiva não aumentou ou se a quantidade de copos plásticos não
diminuiu, significa que, mesmo tendo 100% de adesão no treinamento, algo no processo
falhou e tem de ser revisto.
Enfim, resumindo: mesmo sem uma
metodologia formal, é com essa lógica que se deve pensar em medir a
sustentabilidade. No final das contas, os indicadores continuam sendo
quantitativos. Mas por serem definidos através de análise mais profunda, acabam por fornecer informações qualitativas. E direta ou indiretamente,
ainda podem refletir dados financeiros, pois se, no caso do exemplo do
treinamento, a quantidade de copos utilizados diminui, significa menos compra.
Se a empresa revende o material reciclável, a renda aumenta. Se ela passa a
gastar menos energia ou água, a conta diminui. E por aí vai...
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