Ontem saiu uma matéria no caderno
Razão Social, do jornal O Globo muito, muito, muito interessante. Infelizmente
não me lembrei de guardar para escanear e não consigo encontrá-la disponível
online. Brilhantemente escrita pela jornalista Camila Nóbrega, a matéria falava
do prêmio “conquistado” pela Vale, de pior empresa do mundo.
Longe de questionar a importância
do prêmio e mesmo a sua legitimidade (que foi feita por votação online e como
primeira colocada a Vale angariou, apenas, 25 mil votos), o que mais chamou
atenção, e foi apontado na matéria, foi a resposta dada a empresa diante do
fato: a de que ela fazia parte do ISE Bovespa e que fazia parte do CDP.
Há pouco mais de um ano escrevi
questionando justamente sobre os
critérios avaliados pelas bolsas para incluírem, ou não, as empresas em seus índices
de sustentabilidade. Só para deixar vocês atualizados, do último ranking divulgado
das dez empresas mais processas no Brasil, sete empresas listadas no ISE faziam
parte desse, nada agradável, top 10. Fora o próprio processo de escolha das
empresas, que não é auditado externamente, dentre outros absurdos.
E o que é CDP? É nada mais que uma
organização que armazena as informações das empresas a respeito de emissões de
carbono e leva essas informações a investidores. Não é uma certificação, não é
uma regulamentação e não tem função de punir ninguém. O fato de uma empresa abrir
ao CDP o seu inventário de emissões, não significa que ela seja sustentável. Não
significa, sequer, que ela esteja engajada na redução dessas emissões. Significa,
apenas, que ela divulgou a quantidade de carbonos emitidos em seus processos
produtivos, independente de ser muito ou pouco.
Num mundo cada vez mais multistakeholder¸ onde as pessoas têm
cada vez mais voz, seja através de grupos organizados ou apenas alguém gritando
em uma rede social, ter não somente a segunda maior empresa do Brasil, mas
muitas outras adotando uma posição de passividade diante dos problemas e usando
índices como chancela para se dizer sustentável é, no mínimo, desprezar o
acontecido.
Não, o mundo não vive sem
mineração e nem a Vale vai perder valor de mercado por conta deste título. Aliás,
esse título está mais fundamentado na percepção das pessoas do que o que acontece
de fato. Mas pergunto (independente do valor do prêmio, do quanto ele arranha a
imagem da empresa e se a forma de avaliação é a correta): foi injusto?