Lembram-se quando escrevi sobre como o Butão mede a sua riqueza, que é através do índice de felicidade de sua população? Neste mesmo texto critiquei a forma fria de como é avaliada a economia de um país, a percepção de riqueza das pessoas e do quanto esta riqueza material está tornando o Brasil um país pobre.
Pois bem, apesar de pouco
estardalhaço, saiu na mídia no início do mês que o deputado Otávio Leite
(PSDB-RJ) apresentou um projeto de lei que propõe mudança na forma de medir o
nosso PIB. Segundo o projeto, além dos cálculos já utilizados, seria levado em
conta o patrimônio ecológico nacional. Seria, assim, digamos, um PIB verde. De
acordo com o deputado, o PIB verde é um indicador que leva em conta as consequências
ambientais do crescimento econômico medido pelo PIB padrão. Ou seja, os custos
ambientais que esse crescimento gera.
Confesso que mesmo sem me
aprofundar nos detalhes do projeto, fiquei preocupada com a forma como está
sendo encarada a questão ambiental. Pelo que entendi, o cálculo será o valor
monetário das riquezas menos o valor monetário do impacto que essa riqueza
causou no meio ambiente. Pergunto: quando há investimento em inovação, esse “custo”
é subtraído do PIB?
Em minha opinião, a lógica do cálculo
não deveria ser apenas do custo que se teve por não investir em meio ambiente. É
muito simplista e muito reativo pensar que o valor da riqueza financeira gerada
menos o custo do impacto ambiental reflete o que é sustentabilidade
verdadeiramente. E na boa, o que isso traduz na prática? Que corremos o risco
de deixarmos de ser a sexta maior economia do mundo?
Por que, além desse custo, não
utilizarmos a lógica contrária, a de somar à conta o impacto financeiro que o
investimento em economia verde gera para o país? Será que uma matriz energética
limpa tem o mesmo valor que uma matriz termoelétrica? Será que uma empresa que
fatura um milhão de reais por ano vendendo embalagens oriundas do petróleo gera
a mesma riqueza que uma empresa que fatura o mesmo milhão vendendo embalagens
feitas de material reciclado? É só o
custo ambiental que está embutido nessa riqueza?
E as questões sociais, tanto do
ponto de vista do custo, quanto do investimento, que sequer foram mencionadas?
Lá no texto sobre o Butão, falei do carro. Pensemos: qual o custo social de se
ficar preso no trânsito cada vez mais tempo? Quais consequências isso acarreta?
Desmembrando essa questão, vejo, no final dessa ponta, a possibilidade de maior
favelização das cidades. Na hora de calcular o PIB, esse custo seria diminuído?
E na boa, qual a importância de ter esse valor diminuído, se nada for feito
para diminuir ou resolver o problema?
Enfim, são muitas questões
pendentes que poderiam ser contempladas desde o início do projeto de lei. Mas
não se deixem levar pelas minhas palavras. Critico o projeto que está muito
distante do ideal, porém prefiro isso a nada.