Praticamente três meses separam esse do último post escrito.
Que, aliás, nem foi escrito por mim. Para quem não sabe, passei quase cinco
meses no interior do Pará e a infraestrutura lá é bem precária. Transporte,
serviços básicos, saúde, tudo. Internet então, nem se fala. Por isso a não
atualização. Mas voltei para o Rio e voltei com um tema que não sei como está
sendo tratado pelo restante do país: o plebiscito na próxima semana (dia 11) a
respeito da divisão do Pará em três estados.
Soube do plebiscito acho que em abril ou maio e a minha primeira reação, como habitante da região mais rica do país, foi ser contra. Afinal, era mais despesa com a máquina pública, mais dinheiro federal sustentando estados falidos e, principalmente, mais dinheiro para a roubalheira.
É muito fácil para nós daqui de baixo pensarmos dessa
maneira já que o próprio histórico político do nosso país nos leva a crer nisso.
Mas analisemos mais detalhadamente a questão, a começar pela pergunta básica:
por que essa tentativa de divisão existe? Não sei dizer quando o movimento
separatista surgiu, mas a data é irrelevante. O que importa é que o Pará é o
segundo maior estado do país, riquíssimo em recursos naturais (Carajás possui a
maior mina de ferro do mundo), além de grande polo pecuarista.
Ao mesmo tempo em que se tem aspectos econômicos muito positivos,
tem-se em Itupiranga a cidade mais violenta do país (e em Marabá a quarta) e se
tem na BR 222 a pior estrada do Brasil (que eu já conferi em duas situações). Parauapebas,
onde fica o distrito de Carajás, é, proporcionalmente, a cidade brasileira com
maior incidência de contaminação pelo vírus da AIDS. Cidades ainda menores, como a
que eu morava, sequer tinha asfalto. Saneamento, então, nem pensar.
Marabá, Parauapebas e Canaã dos Carajás, que fazem parte do sudeste
paraense (e que com a divisão passariam a fazer parte de Carajás – o outro
estado seria Tapajós), respondem por 80% dos royalties da mineração do Pará. Dinheiro este que não chega à
região. Inclusive de acordo com o economista Celio Costa, do orçamento de 2010,
88% foram gastos na região de Belém e seu entorno.
E aí vem a pergunta do milhão: se o dinheiro está no sudeste,
por que este não percebe o desenvolvimento? Não sei se pelo tamanho ou por má
administração pública, a verdade é que a riqueza sai e não volta em forma
de benefícios para as cidades. Aliás, os poucos benefícios que a região possui
vêm da iniciativa privada. Lê-se: Vale. E aqui eu falo de responsabilidades
básicas da iniciativa pública: estradas, hospitais, equipamentos para a
polícia, escolas, iluminação de vias...
Do ponto de vista da sustentabilidade, muitos dos contrários
à divisão alegam que seriam mais áreas de floresta devastadas. Seriam não,
serão. Caso as pessoas permitam. Vale lembrar que o estado de Tapajós
concentraria uma vasta região de áreas protegidas por lei. Cabe à fiscalização,
que neste caso independe de qual estado estamos falando, já que ela é federal,
coibir desmatamento. E cabe à população e aos ambientalistas cobrarem por desenvolvimento
sustentável, que é plenamente possível.
E quanto à questão que muitos contra a divisão falam, a do
custeio do estado, quero que me falem a respeito do Mato Grosso do Sul e do
Tocantins. Porque, sinceramente, me preocupa mais o custeio dos municípios.
Vejo constantemente cidades surgindo com cinco, dez mil habitantes e que
possuem como única fonte de renda o repasse da União. O motivo? Do ponto de
vista da nossa política nacional, é mais garantido ganhar eleição fazendo
aliança nesse nível do que em nível estadual.