Galerinha, a internet aqui no Pará é ruim demais e é meio que desestimulante usá-la por aqui. Vou atualizando na medida em que der. Enquanto não dá, posto um texto do Saulo, que me representou em um evento da Nestlé em BH no final do mês passado. Ele foi lá conhecer o projeto Bambruz e a Cozinha Escola da Nestlé no Mercado Central.
À convite da Nestlé, fui conhecer a BAMCRUZ - Bambuzeria
Cruzeiro do Sul, de Minas Gerais, um empreendimento social presidido pelo
mestre bambuzeiro Lúcio Ventania. Desde 1999, a organização dedica-se a
pesquisas sobre tecnologias de produção para o artesanato, construção civil,
movelaria e agricultura, utilizando o bambu como matéria-prima. A história de
Lúcio já vem da década de 80, quando começou artesanalmente a trabalhar sob
encomenda. A partir de então, o mestre viu a possibilidade de inclusão social
através da geração de emprego e renda, montando pequenas fábricas de bambu, que
se denominou bambuzerias, pelo país.
“Com auxílio de órgãos públicos e empresários locais, nosso
grupo tinha a ilusão de transformar unidades produtivas, que chegaram a 60 no
total, em cooperativas sociais, através do conhecimento e técnica do cultivo e
produção do bambu. Ficamos 25 anos fazendo isso e vimos que, no balanço final,
geramos muito pouco desenvolvimento. As cooperativas fechavam em pouco mais de
dois a três anos, porque quando o negócio começava a dar certo, gerava uma
série de responsabilidades, como: questões burocráticas, cumprir a entrega dos
produtos, impostos etc. Aquelas pessoas não estavam preparadas para dar conta,
e preferiam voltar a vender bala no sinal de trânsito”, diz Lúcio.
Após descontinuar esse programa pelo país, a BAMCRUZ
precisou repaginar seu plano estratégico. Com apoio da Fundação Avina e
Fundação Banco do Brasil, na busca por uma maior articulação com a comunidade
onde o empreendimento está instalado, no distrito de Ravena, no município
mineiro de Sabará, foi lançado o CERBAMBU Ravena, em uma área de 25 mil m²,
para se tornar um local de referência econômica do bambu, bem como o
desenvolvimento de tecnologias sociais na região. O espaço é composto por
núcleo de capacitação técnica, de tratamento de bambus, compostagem, viveiro de
mudas, estufa e biblioteca.
O visitante é logo impactado com as centenas de touceiras de
bambus que rodeiam o caminho que leva até o CERBAMBU. Dependendo do tipo de
bambu, uma touceira pode ter cinco metros de diâmetro ou mais. Além disso, esse conjunto vegetal leva apenas
de três a quatro anos para crescer. Uma
ilustração do local bem interessante é uma construção erguida com bambus, de
200m², iluminação natural, com cobertura de piaçava, deixando esse conjunto
arquitetônico com clima agradável. Esse
espaço é a sede do Núcleo de Atividades e Vivências (Nave), onde se realizam
apresentações artísticas, culturais e oficinas.
Para dinamizar o CERBAMBU na região, foi criado o projeto
Ravena 30, uma ação mobilizadora para desenvolver e consolidar a cadeia
produtiva do bambu na região. O Ravena 30 se baseia em quatro programas: o
desenvolvimento de pesquisa; o seqüestro de carbono como ferramenta social; a
economia criativa com compromisso ambiental e a educação para uma cultura de
sustentabilidade.
“A ideia é desenvolver a cadeia produtiva do bambu, durante
um período de 30 anos, na região de Ravena. Para fortalecer essa cadeia, há duas
vertentes: a mão de obra especializada dos moradores das comunidades e o cultivo
em escala do bambu, associado à mata nativa. Como incentivo ao cultivo da
planta, estamos trabalhando em cima da Lei do Bambu, para passar se tornar
federal, tornando o bambu como um produto tal como arroz, feijão, soja, com
direito a crédito para os agricultores investirem no cultivo da árvore”,
explica o mestre.
Um outro incentivo, acredita Lúcio, são as características
fundamentais do bambu para o seqüestro de carbono, pois a árvore tem um
crescimento rápido, em um pequeno espaço, com biomassa significativa e ciclo
vegetativo de até 100 anos. O objetivo é propor aos agricultores que usem as
áreas desmatadas para plantar bambus, assim vendendo posteriormente para o
mercado de carbono.
Também consta no Ravena 30 o plano do bambu ainda ser o
substituto da madeira no mercado de construção civil. O objetivo é, em 10 anos,
ter material, tecnologia, design, para suprir 5% deste mercado, em Minas
Gerais, fornecendo matéria-prima para portas, assoalhos, marcos etc. Para isso,
é necessário o cultivo de 5 a 10 mil hectares de bambu, começando neste
momento.
Enquanto a
entrada neste mercado está para o futuro, o
CERBAMBU trabalha com pequenos produtos, como óculos, até móveis, mas
assim, como deseja Lucio, que o produto tenha alto valor agregado. A
colheita vem dos
bambuzais existentes em Ravena, via arrendamento.
"Estamos
com produção de cabides, que gera uma boa renda e inclui pessoas com
vulnerabilidade social, e em breve, pretendemos exportar óculos de sol
para a Europa -
apresentado na Bienal Brasileira de Design 2010, em Curitiba (PR)",
finaliza Lúcio.