O Pedro, que mantém o blog Relações, me deu uma dica sobre o Butão, ao contar como o país, bastante pobre, mede o seu PIB. Mais do que dinheiro e poder de consumo, o PIB do Butão está relacionado ao índice de felicidade da população. Lembro que no ano passado surgiu uma campanha de uma empresa que eu não lembro qual era (mas que tinha a ver, acho, com venda de seguros) sobre isso. E aí se falou da tal Felicidade Interna Bruta.
Não, não vou escrever de modo diferente o que o Pedro magnificamente escreveu em seu blog. Quem quiser saber mais sobre o Butão, recomendo a lida do post no Relações. Mas vou escrever sobre a percepção que as pessoas têm sobre riqueza no mundo atual e o custo dessa riqueza.
Muito se tem discutido sobre o conceito de desenvolvimento sustentável divulgado no Relatório de Brundtland – a satisfação das necessidades atuais sem o comprometimento da satisfação das necessidades das gerações futuras. E a discussão se dá em torno justamente do que gera essa satisfação, pois o que o que satisfaz um pode não satisfazer a outro.
A questão é que quanto mais se tem, mais se quer. E aí a gente está falando de nações, de empresas, de pessoas. E essa motivação faz com que as pessoas entrem num círculo vicioso completamente insustentável. Não, eu não sou socialista, comunista ou anarquista. E também não vem ao caso minhas convicções políticas. O caso aqui é outro.
Mas pensemos: será que a riqueza de um país, de um povo, de uma companhia ou de quem for, só pode ser medida por números? Por dinheiro? Vamos analisar a nossa realidade. Brasil, país extremamente desigual, infraestrutura precária e com a economia bombando. Temos classes C, D e E com uma demanda altíssima por consumo.
Qual o “preço” que se paga por essa geração de riqueza? O melhor exemplo é a cadeia de valor de um carro. Nunca antes nesse país se vendeu tanto automóvel como agora. Nunca antes nesse país se perdeu tanta qualidade de vida em congestionamentos quilométricos. E o que aumenta ainda mais esse “preço” não é só a falta de infraestrutura, mas também a falta de educação, pois usar transporte público no país, quando é opção, parece que é atestado de pobreza.
Pois bem, algum tempo atrás, quando falei que indicadores de sustentabilidade deveriam refletir mais do que quantidade, o mesmo se aplica à riqueza de um país. É impossível dissociar a riqueza da qualidade de vida. Falei da questão do trânsito, mas tem o custo da violência, o custo da falta de investimento em saúde e educação, o custo social da nossa carga tributária...
Não sei se é abstrato e utópico demais querer medir riqueza por felicidade da população, mas certamente é fundamental dar qualidade ao número que todos os anos é gerado. E um país só terá um PIB qualitativo quando a sustentabilidade estiver inserida em todos os contextos: público, corporativo e pessoal. Se pensarmos dessa forma, a única certeza que se tem hoje é de que ao contrário do que a maioria imagina, somos um país pobre.