sexta-feira, 15 de abril de 2011

Copa e Olimpíadas insustentáveis


Não sei se vocês viram estampado nos principais jornais de hoje a notícia de que o governo brasileiro vai afrouxar controles para garantir o cronograma da Copa e das Olimpíadas. Para isso, o governo vai fixar o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias que altera as regras para licitação. O relator da LDO argumenta que se as obras não ficarem prontas a tempo, a grande prejudicada será a sociedade.

Pois bem, quando o Brasil foi credenciado à sede da Copa do Mundo mesmo? Não lembram? Foi em 2007, quatro anos atrás, pouco depois de sediarmos o Pan Americano. O que foi feito nos aeroportos e no sistema público de transporte nesse meio tempo? Quando foi que o Rio de Janeiro ganhou o direito de ser sede dos Jogos Olímpicos de 2016? Não se lembram? Foi há um ano e meio, em outubro de 2009. O que falta para a APO ser constituída?

Se não me engano, em 2007 o Galeão sofreu uma grande obra. Lembro-me disso porque era um ano que eu viajava bastante e como o Santos Dumont só fazia Rio-São Paulo, era para lá que eu tinha de ir praticamente toda semana. Pergunto: o que foi feito no aeroporto que não apenas não resolveu, mas que não melhorou em nada a situação crítica em que ele se encontrava?

Sou completamente apaixonada por esportes e, para mim, Copa e Olimpíadas são motivo de orgulho para o país. Sempre fui otimista e achei que estes eventos seriam bons e rápidos meios para melhorar a estrutura das cidades. Achei que os erros do Pan poderiam servir de lição para 2014 e 2016, mas acho que me esqueci o fato de que são os mesmos velhos políticos que tomam a decisão sobre o dinheiro público. Ou melhor, sobre os mais de um trilhão de reais que pagamos anualmente de impostos.

E tudo isso é feito da forma mais sórdida possível: adia enquanto pode a decisão da licitação para as obras até se chegar ao ponto em que ela vira urgente e com um cronograma inviável para ser cumprido nos moldes da burocracia pública. Durante o Pan do Rio, a maioria das obras foi realizada nesse esquema, fazendo com que o custo do evento ficasse três, quatro, cinco vezes maior que o previsto inicialmente.

E para piorar o que já estava ruim, não houve preocupação alguma com a gestão dos legados. Instalações abandonadas, instalações fechadas, instalações sublocadas. Só um bom exemplo: não sei se vocês sabem o custo de construção do Engenhão e o custo mensal do aluguel que o Botafogo paga. Sabem quando o investimento vai se pagar? Coloquem aí alguns séculos.

Esse é o cenário político que está sendo desenhado para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. Estamos jogando no ralo uma chance única. Para FIFA e para o COI pouco importa os meios, mas sim que no final das contas tudo esteja conforme o combinado. Não tenho dúvidas que daqui a três anos e depois daqui a cinco estaremos realizando magnificamente os dois maiores espetáculos da terra. Mas sabe lá a que preço e se realmente terá valido a pena.

E aproveitando o tema que vai ganhar ainda mais discussão nos próximos dias, não percam o H² Sustentável que será realizado no dia 26/04 no bar Bossa Nossa, no Centro com a presença de Márcio Santa Rosa, engenheiro responsável pelo caderno de encargos de sustentabilidade da candidatura do Rio aos jogos de 2016.

1 comentários:

CIDADE DO TRABALHO disse...

Juliana, vc disse tudo!
Sou produtor cultural e no momento estou em pré-produção do Projeto Cidade do Trabalho - Memórias da Vila Operária da Boa Viagem, onde conto a história do início da Responsabilidade Social Empresarial no mundo. Isso mesmo!
Confira e se espante com a história do primeiro prefeito negro do Brasil e pioneiro dos direitos trabalhistas, na Salvador de 1892.
Vou adicinar o seu perfil no Facebook, o nosso é Cidade do Trabalho Instituto.
Abraço forte!
Orlando Valle
cidadedotrabalho@gmail.com