Já tinha em mente escrever sobre o assunto há um bom tempo e dado os acontecimentos das últimas semanas, nada mais oportuno que seja agora. Os primeiros meses do ano no Brasil é a época em aumenta o volume de chuvas e consequentemente aumenta o número de enchentes, tragédias e dramas particulares. Aproveito para divulgar mais uma vez o Conhecer para Sustentar, projeto da Fundação Bunge, que, em minha opinião, é o caminho para que situações como essa sejam evitadas.
Mas independente do trabalho de prevenção, que obrigatoriamente deve ser feito por todas as esferas governamentais e pela sociedade como um todo, quando uma tragédia devasta uma região, uma força tarefa entra em ação para que a ajuda chegue o mais rápido possível aos necessitados. E uma das questões mais complexas a serem tratadas nesses casos é a logística.
Em novembro passado tive a oportunidade de conhecer dois papas da chamada logística humanitária, José Holguín-Veras e Luk Van Wassenhove. Veras, diretor do Centro para Infraestrutura, Transporte e Meio Ambiente da Universidade de Rensselaer, está diretamente ligado com o trabalho de logística do Haiti desde a época do terremoto. Já Wassenhove, diretor do grupo de pesquisa humanitária do INSEAD, possui diversas linhas de pesquisa voltadas para o tema.
O que ambos falam de cara, é que a logística humanitária é uma logística diferente da empresarial e da militar. Quando se fala em custo, por exemplo, o objetivo da logística empresarial é minimizar o custo financeiro, enquanto que para a logística humanitária o objetivo tem de ser o de minimizar o custo do sofrimento. Há, ainda, outras particularidades que dificultam o processo, como o desconhecimento da demanda, interações desestruturadas, o alto número de pessoas que tomam decisões etc.
Um dos principais pontos nevrálgicos da logística humanitária é o gerenciamento das doações, que acaba por impactar a cadeia como um todo. A média histórica indica que por volta de 60% delas são inutilizáveis. O problema é que elas acabam ocupando espaço nos estoques, muitas vezes restritos, além de demandar força de trabalho, tempo e dinheiro que poderiam ser utilizados em ações que fossem realmente efetivas para o cenário de tragédia.
E muito do problema ocasionando pelas doações tem a ver com a gente, sociedade. Há casos de doações de casacos pesados para países tropicais e mesmo doação de smokings! Por isso deixo, mesmo sabendo que o tema vai muito além de gerenciamento de doações, uma reflexão e uma pergunta: ao conhecimento de alguma tragédia, seja local, nacional ou internacional, o que podemos fazer para minimizar o custo desse sofrimento do que apenas procurar em nosso armário alguma roupa velha para doar?