Movimentando, anualmente, cerca de US$ 1 trilhão, o esporte é uma das indústrias mais lucrativas do planeta. Patrocínios, agenciamento de atletas, marketing esportivo, clubes, eventos, licenciamento de produtos, direito de transmissão... A cadeia produtiva é imensa e o seu crescimento atinge a casa dos dois dígitos.
De dois em dois anos alguma cidade ou país é sede de dos dois maiores eventos da Terra: Copa do Mundo e Olimpíadas. Com audiência que bate os três bilhões de espectadores, esses mega eventos são um bom negócio para todos: as entidades que os promovem, os países/cidades que os recebem, a população que usufrui do legado e diversas empresas que trabalham para que tudo aconteça da melhor forma possível.
Fica muito mais claro pensar na sustentabilidade esportiva quando se tem um evento a ser realizado. Construção sustentável, estímulo ao uso de transporte público, envolvimento de comunidades locais na realização do evento... Mas sustentabilidade esportiva é mais do que isso. Quando se trata de clubes ou confederações, o passo a passo da sustentabilidade é o mesmo a ser adotado por uma empresa: análise de maturidade, adequação dos processos, mapeamento e gestão de stakeholders, treinamento, change management, etc.
E se olharmos para a situação dos clubes brasileiros, principalmente os de futebol, fica ainda mais clara a importância da sustentabilidade para o esporte no país. Com dívidas milionárias e problemas gravíssimos de gestão e política, a maioria se encontra bastante atrasada em relação aos clubes europeus e ao modelo de gestão esportiva norte americano.
É claro que sanear dívidas e buscar o equilíbrio financeiro é o primeiro passo para a sustentabilidade. Mas como ir além? Apesar de possibilitar retornos dos mais diversos tipos, um dos principais ganhos ao se optar pela sustentabilidade é a reputação. No caso dos clubes e das entidades esportivas, eles têm uma grande vantagem em poder usar a imagem do atleta na divulgação das suas ações e na disseminação da cultura da sustentabilidade.
Além da reputação, há, também, o fato de que a adoção da sustentabilidade abre um leque maior de potenciais patrocinadores. Neste caso, falo não apenas das empresas que querem ter sua imagem associada a um clube que trabalha com a sustentabilidade, mas também porque ele passa a ser sinônimo de administração austera e menor risco.
Sabemos que em menos de seis anos o país terá de provar que mesmo tendo muitos investimentos em infraestrutura a se fazer, ele será capaz de realizar eventos memoráveis e sustentáveis. E que junto com o lucro, com o aumento do fluxo de turistas, com maior segurança, com a melhoria da qualidade dos transportes públicos, não há dúvida que esses eventos terão de gerar desenvolvimento social e consciência ambiental.
Mas mesmo com toda a responsabilidade dos próximos anos, o grande desafio do esporte hoje tem a ver com gestão. E a questão fica ainda mais evidenciada quando temos um modelo de formação de talentos que passa pelos clubes e a meta ambiciosa do Ministério do Esporte de transformar o país em uma potência olímpica.
E para isso acontecer, mais do que sediar Jogos Olímpicos e Copa do Mundo, muitos bons exemplos de gestão esportiva terão de aparecer em pouco tempo. E aí entra a sustentabilidade, que permite aos gestores o alcance de eficiência operacional, alinhada ao equilíbrio entre responsabilidades financeira e ambiental e desenvolvimento social através do esporte.
Este texto é parte do white paper Sports & Sustainability – A perspective for Brazil beyond the World Cup and The Olympics Games que em breve estará disponível para download.