No post do dia 18 de outubro deste ano escrevi sobre o desafio de sustentabilidade para a Rio-2016. Nele cito brevemente a questão do design tão propalado pelos executivos de Londres. Não sou especialista no tema, mas ao conhecer o Parque Olímpico e o head de design da ODA (Olympic Delivery Autorithy), percebi e entendi a sua real importância para a sustentabilidade dos Jogos.
Desde antes da construção do Parque Olímpico, a ODA já tinha definido o destino das instalações após a realização dos Jogos. Chamaria isso de gestão de legado, algo muito distante do que aconteceu no Pan Americano de 2007, cujos responsáveis até hoje não sabem o que fazer com algumas construções, consumindo dinheiro de manutenção ou, simplesmente, largadas para depreciação.
Em Londres, para começar, temos o redesenho de um bairro pobre, Stratford, até então bastante degradado. Regeneração é a palavra de ordem dos Jogos de 2012. Depois tem o lema de construir algo que seja possível de manter. Aí entra a questão das instalações temporárias, que apesar de polêmicas, fazem sentido quando se pensa no futuro de longo prazo e não num futuro que contemple apenas a realização das competições.
Pergunto: O que é melhor, uma construção temporária ou um elefante branco? Vale ressaltar que as estruturas das instalações temporárias serão reutilizadas para outras construções esportivas na cidade. E que, quando possível, o material de construção será reutilizado em outras obras. Tem como dizer que não é sustentável?
O estádio olímpico, que terá capacidade para 80 mil pessoas, tem um design onde 55 mil lugares são cadeiras desmontáveis, fazendo com que ele possa ter o tamanho que quiser a partir de 25 mil lugares. Jerome Frost me disse que há dois clubes interessados em gerir o estádio após os jogos. Um, que quer uma capacidade para 40 mil pessoas e outro 60 mil pessoas. E aí imaginemos se a estrutura fosse fixa; quem se candidataria a um estádio para 80 mil pessoas?
Menina dos olhos da ODA, o VeloPark, onde acontecerá as competições de ciclismo indoor, é a obra mais sustentável dos Jogos. Com um design que facilita a ventilação natural, além de economizar no gasto energético, a sua construção emitiu 34% menos de carbono, quando o acordo firmado era de 15% de redução. E tudo isso se deveu a integração de arquitetos, engenheiros, profissionais da obra e responsáveis pela gestão do velódromo. Aí pergunto: seremos capazes de trabalhar com esse nível de integração?
Trazendo essa realidade para o Rio de Janeiro, temos um baita desafio de sustentabilidade nas novas construções e na reforma das antigas instalações. O único irônico dessa nossa história é a palavra revitalização. Não me falem de Porto, pois isso já seria revitalizado com ou sem olimpíadas. A única área suburbana contemplada no nosso projeto olímpico é Deodoro, que é militar, portanto bem estruturada e segura. Maspergunto: efetivamente estaremos revitalizando? A Barra da Tijuca?
Legenda da foto: velódromo à esquerda e ginásio de basquete à direita.