No final de junho deste ano, na reunião anual do Global Compact, a ONU apresentou o “A new era of sustainability – UN Global Compact-Accenture CEO Study 2010”, uma pesquisa que mostra a visão dos CEOs em relação à sustentabilidade. Na ocasião foram entrevistados 766 presidentes em 100 países, representando 25 setores da economia. Uma tonelada de blogs, sites, portais, revistas, jornais e afins já noticiaram a existência desse estudo e a minha proposta não é fazer isso, até porque, três meses depois, seria, no mínimo, ridículo.
Farei aqui algo além de simplesmente noticiar a existência do estudo. Procurarei interpretá-lo, uma vez que algumas informações me chamaram bastante a atenção. Nessas horas a gente vê o quanto o teor de uma pesquisa pode influenciar uma resposta, afinal, quem quer, ainda mais um CEO, ficar “mal na fita”?
De acordo com o estudo, 93% dos CEOs acreditam que a sustentabilidade será crítica para o sucesso do seu negócio no futuro. Além disso, 96% acreditam que as questões de sustentabilidade devem estar totalmente integradas à estratégia e operação da empresa. Um salto extremamente considerável em relação à pesquisa anterior, quando o índice já era alto (72% em 2007).
Comemorações à parte, duas perguntinhas chaves: o que CEOs entrevistados entendem por sustentabilidade corporativa? Se eles consideram o assunto crítico para o sucesso no futuro, o que eles fazem HOJE para assegurar isso? As perguntas são pertinentes quando se tem 72% deles respondendo que marca, confiança e reputação os levam para ações de sustentabilidade. Nada contra reputação, mas quem opta por sustentabilidade só por reputação, corre um risco absurdo de praticar nada mais que greenwashing.
O engraçado desse estudo é que quando se fala de intenção, os números são superlativos. Mas quando se trata de ação, a coisa muda de figura. De acordo com a pesquisa, 44% dos entrevistados citam a sustentabilidade como fator de redução de custo e crescimento de receita. Ou seja, quando o assunto é imagem e reputação, o alcance é quase unânime. Mas quando puxamos a sustentabilidade para a prática, nem a metade enxerga o que ela de fato é.
Tudo isso tem a ver, principalmente, com o fato do tempo de retorno dos investimentos ser maior. Num modelo administrativo onde cada um olha para o seu umbigo, projetos brilhantes, vira e mexe, são abortados apenas porque o resultado não vem a tempo de garantir o bônus no final do ano. E quanto mais esses CEOs empurrarem o que deve ser feito com a barriga, mais caro e mais complexo será lá na frente. Quanto ao discurso, não há o que se preocupar. A pesquisa mostra que ele está afiado e em consonância com o politicamente correto. E só.