Sempre fico preocupada quando vejo que cada vez mais é senso comum que produtos sustentáveis, necessariamente, devem ser mais caros. Brinco dizendo que o dono do Mundo Verde é o culpado disso. Em alguns casos o processo de sustentabilidade realmente encarece o produto. Mas na maioria das vezes o que acontece é que fabricar um produto sustentável é apenas mais um dentro de um vasto portfólio de empresas que continuam sendo administradas da mesma maneira.
O grande problema, na verdade, é que optar pela sustentabilidade é muito mais do que fazer projetos sociais em comunidades e entregar ao governo relatórios ambientais. Optar pela sustentabilidade é, antes de tudo, fazer uso de um novo modelo administrativo.
Clareando as ideias. Vamos pensar em quando os japoneses vieram com uma coisa estranha chamada sistema de qualidade. Além de causar espanto na época, foi o que alçou o país ao status de estrela da era da produção. Alguém hoje pensa em uma indústria que não faça uso dos princípios de qualidade? Por um acaso é vantagem competitiva uma empresa dizer que seu modelo de operação segue esse padrão?
Assim como o sistema de qualidade trouxe um novo modelo de administração, a sustentabilidade também chega propondo uma gestão diferente. Um modelo que terá de ser aprendido por bem ou na marra. E pelo que observo, infelizmente as empresas estão deixando para aprender na marra. Mas enfim, o que a proposta da sustentabilidade tem de tão diferente do que é praticado nos dias de hoje?
Se alguém se dispuser a ler alguns dos textos que publiquei aqui nesse ano e três meses, encontrará a proposta desse novo modelo de administração. Para entenderem onde quero chegar, deixo uma pergunta: como seria a administração de uma empresa num mundo onde a matéria prima é cara e escassa? E quando falo matéria prima, falo também daquelas que as empresas costumam não pagar, como a água, por exemplo.
O X da questão está na miopia organizacional, que nos dias de hoje faz com que a maioria esmagadora das companhias enxergue sustentabilidade, no máximo, como produto (quando não custo). Na verdade a sustentabilidade é processo, que ainda pode ser visto como vantagem competitiva, mas que, espero, mude de cenário em breve. Ou seja, que se torne senso comum nas empresas.
Pensemos na tecnologia. Não deixa de ser uma inovação (de processo, não de produto) e pergunto: o produto que é gerado pelas máquinas ultramodernas é mais caro que os que ainda advêm de equipamentos “obsoletos” ou as empresas se baseiam em um ganho que vem pela escala ou pela redução de custos?
E aí eu pergunto: o que falta para encararem a sustentabilidade da mesma forma que a qualidade foi vista no seu início e é vista hoje? O que falta para as empresas colocarem a sustentabilidade como protagonista dos centros de inovação? Por que se preocupar tanto em desenvolver tecnologias cada vez mais caras para, por exemplo, extração de petróleo, quando o futuro, obviamente, está nas energias renováveis? E a pergunta do milhão: por que, diabos, um produto sustentável tem de ser mais caro? Incompetência administrativa ou a ganância de sempre?