Já toquei no assunto de legados por duas vezes neste blog em pouco mais de dois meses. Faltando poucos dias para o fim da Copa do Mundo de 2010, questionei qual seria o real legado do evento para todo o continente africano face o lucro da FIFA e o que ela disponibilizou para a região. Algum tempo depois mostrei o exemplo a ser seguido de Barcelona e o exemplo a não ser seguido de Atenas.
O tema do meeting de responsabilidade social do Instituto Bola Pra Frente desse ano foi Legado Social e Megaeventos Esportivos. Na quarta, quando fui, palestrou o chefe do departamento de esportes da Sheffield Hallam University, da Inglaterra, Guy Masterman. E mister Masterman levantou pontos muito interessantes sobre o assunto que tem tudo a ver com sustentabilidade. Para não ficar um post interminável, abordarei o que achei mais importante.
Uma questão levantada que acho que ninguém pára (ortografia antiga para não confundir) para pensar nela é de como gerar um legado para a cidade mesmo que a candidatura não vingue. Para se ter ideia do quanto de dinheiro circula para viabilizar uma candidatura, de acordo com o portal da transparência, o custo da Rio-2016 foi de R$ 91.052.265,24, mas matéria da Folha de São Paulo apontou que chegou a R$ 120 milhões.
Pois bem, 120 milhões. É muito dinheiro, não acham? E se o Rio não vencesse a disputa pelos Jogos? Será que poderíamos, de alguma forma, reverter em algum benefício para a cidade esse investimento ou seriam R$ 120 milhões jogados no ralo? Vale lembrar que a fracassada candidatura de 2012 custou aos cofres públicos e privados R$ 80 milhões.
Quando uma cidade/país ganha o direito de sediar algo do porte de Olimpíadas ou Copa do Mundo, além de construção de ginásios, estádios e hotéis, que vão, em primeiro plano, atender primariamente as necessidades do evento, há o investimento em infraestrutura básica. Estrada, aeroportos, sistema público de transporte, capacitação de mão de obra etc. Esse investimento é o maior legado físico deixado para uma cidade e um país.
Mas voltemos ao nível da candidatura da Rio-2016: parte dos 120 ou dos 91 milhões de reais gastos foi para consultorias que fizeram estudos de viabilidade de uma série de questões, como impacto econômico, logística, infraestrutura aeroviária, portuária etc. Confio no material produzido e ele é o pontapé para o plano de ações a ser executado nos próximos seis anos. Mas ficam duas dúvidas: e os estudos da candidatura passada, será que nada pôde ser aproveitado? Ficaram obsoletos em apenas quatro anos? E se não ganhássemos os Jogos de 2016, tudo continuaria no papel?