Como uma pessoa extremamente pragmática, sempre olhei organizações do terceiro setor que tratam basicamente de esporte com certa desconfiança. Legal, a ONG monta um projeto de futebol em uma comunidade carente e oferece uma prática esportiva a crianças em situação de vulnerabilidade. No entanto, estas crianças, em sua maioria absolutamente esmagadora, não se tornam atletas profissionais. E aí, o que vem depois? Cadê a educação de qualidade, a empregabilidade, a possibilidade real de mudança de vida?
Na última quarta-feira fui, pela primeira vez, ao meeting organizado anualmente pelo Instituto Bola Pra Frente, capitaneado pelo ex-jogador de futebol Jorginho. O pragmatismo caiu por terra logo na entrada, quando várias crianças fizeram uma recepção super calorosa. E quando digo super calorosa, é super calorosa mesmo! Aliás, altamente recomendável para pessoas com problemas de auto-estima.
Pois bem, o Instituto. A história da sua criação é linda. O Jorginho, quando criança, então morador do prédio que dava de frente a um extenso campo de várzea, sonhou um dia construir ali a Disney. Jorginho cresceu, venceu no futebol e em 1999 resolveu transformar a sua Disney em realidade.
Funcionando desde 2000, o Instituto Bola Pra Frente, mais do que proporcionar a crianças de 6 a 17 anos do Complexo do Muquiço (Guadalupe – Rio de Janeiro) a prática do futebol, utiliza o esporte como linguagem educacional. Lá, se tornar um atleta de alto rendimento é apenas um detalhe. Garantir às mais de 900 crianças e adolescentes a promoção social e igualdade nas oportunidades é o que importa.
Os projetos não envolvem apenas esporte, mas também atividades artísticas e culturais e são divididos em faixas etárias. No Craque de Bola e Esporte (06 a 09 anos), o futebol é utilizado como de forma lúdica no processo de aprendizagem e tem como objetivo despertar o interesse em aprender, apoiar a alfabetização e combater a evasão escolar. Detalhe: um mapeamento da região indicou que o índice de evasão escolar das crianças e jovens do complexo que não frequentam o Instituto é de 41,91%. Já o índice de evasão dos que frequentam é de 0,5%.
No programa ARTlheiro, (10 a 14 anos), além do esporte, teatro, dança, música, vídeo e artesanato entram em ação com o objetivo de estimular a criatividade e a liberdade de expressão, incentivando as manifestações artísticas. Já no Campeão da Cidadania (15 a 17anos), o objetivo é investir na qualificação profissional, incentivando o empreendedorismo e inserção no mundo do trabalho. Uma das ações é a empresa júnior, que está sendo implementada para atender demandas do esporte e foi o projeto que conquistou, efetivamente meu coração.
Enfim, além dos programas que enchem os olhos de qualquer um, o modelo de gestão do Instituto também é de deixar administradores de queixo caído. Aliando o imenso carinho e orgulho demonstrado por quem faz parte do sonho e eficiência em gestão, acabei por descobrir, na quarta-feira, que a Disney era muito mais perto e muito mais possível do que imaginava.