Ontem fui a um evento organizado pela Amcham Rio e pela LIDE, cujo tema era “Copa 2014: O que podemos esperar?” No seminário foram abordados temas como o efeito na indústria hoteleira, mecanismos jurídicos da Copa, investimentos estratégicos no Rio, dentre outros. O que me motivou a ir foi a palestra do sócio da Ernst & Young, José Carlos Pinto, em conjunto com o coordenador de projetos da FGV, Fernando Blumenschein.
Na palestra, intitulada Brasil Sustentável – Impactos Socioeconômicos da Copa do Mundo 2014, os profissionais apresentaram uma pesquisa muito bem detalhada sobre o que a vinda de um evento deste porte significará para o Brasil. Acontece que não sei o que as pessoas entendem por sustentabilidade, mas a decepção começou quando vi que tanto José Carlos, quanto Fernando, falariam, basicamente, de informações financeiras.
Os dados econômicos são impressionantes e fazem encher os olhos de qualquer brasileiro, apesar de eu achar que eles subestimaram investimentos em estádios e aeroportos. Mas para uma pesquisa que tem a palavra sustentável no título, de 50 páginas, apenas seis serem relacionadas à sustentabilidade é muito pouco. E o que eles chamam de sustentabilidade é o que me preocupa.
Para começar, eles falam de Copa Verde. Ano passado, quando escrevi a primeira vez sobre sustentabilidade no esporte e falei do Green Goal Legacy Report, critiquei o fato tanto do comitê da Alemanha, quanto à FIFA se reduzirem a um escopo de meio ambiente e só se preocuparem com o impacto direto do evento. O Fernando Blumenschein chegou a falar que depois de publicado o estudo, foi feito um mapeamento da cadeia da Copa, mas não sei até que ponto eles vão considerar a sustentabilidade nessa cadeia.
No estudo foram apresentados indicadores para se fazer uma Copa Verde que são bem válidos, ao mesmo tempo em que são bem óbvios. Tive a clara sensação que eles, não os responsáveis pelo estudo, mas os que estão nos comitês organizadores, vão copiar o modelo de “sustentabilidade” da Alemanha, que foi feito para um país que já tem infraestrutura pronta e um nível social elevado.
A pesquisa chega a falar, timidamente, de impactos sociais, mas a superficialidade me incomodou bastante. Citaram a melhora de autoestima (sustentabilidade?), exposição na mídia (sustentabilidade?), potencial redução de violência e criminalidade (como se isso se resolvesse com um evento e não uma sequência de ações e políticas públicas integradas que passam muito longe de uma Copa do Mundo) e impacto sobre escolaridade e renda através de programa de voluntariado sem apresentar dados que corroborem essas afirmações.
Enfim, do ponto de vista da sustentabilidade, o sinal amarelo (já virando para vermelho) está aceso. Tenho dúvidas de que se faça mais do que o basicão que a FIFA exige. E no nosso caso específico, um dos principais agentes dificultadores é o fato de, mesmo havendo um comitê central da Copa, cada cidade-sede ter autonomia para administrar da forma que quiser. Sabendo da nossa esquizofrenia política e de que muitos gestores públicos administram nossas cidades, estados e país com interesses pessoais, vejo que se conseguirmos fazer uma Copa Verde, estaremos é no lucro.