segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O exemplo dos Jogos Olímpicos de Barcelona para a sustentabilidade

Quando se fala em Copa do Mundo e Olimpíadas, os defensores são praticamente unânimes em afirmar o ganho que os países e cidades acolhedoras terão principalmente do ponto de vista econômico, com o aumento no fluxo de turistas. Sou uma verdadeira entusiasta, mas não mascaro o óbvio. Inclusive há pouco tempo escrevi sobre o real legado que a Copa do Mundo de 2010 deixará para o continente africano e, em especial, a África do Sul.

A questão é que existe uma linha tênue entre investir quantias astronômicas (principalmente dinheiro público) em benefício de toda a região e investir quantias astronômicas em ações que apenas garantam a viabilização do evento. Foi o que aconteceu na África do Sul, foi o que aconteceu em Atenas e é o que tememos acontecer no Brasil.

Passados pouco mais de dois anos dos jogos de Pequim, não é possível avaliar com precisão o impacto das Olimpíadas na cidade, principalmente por causa da crise econômica que ainda ecoa pelo mundo. Por hora sabemos que sim, a poluição diminuiu (apesar de longe do ideal), que o trânsito melhorou e que de alguma forma deram utilidade ao Ninho de Pássaro. Pouco, mas mais do que é feito em Atenas, que sediou os jogos quatro anos antes.

A realidade do que aconteceu em Atenas é muito próximo do que vivenciamos no Pan de 2007. Cronograma de obras atrasado, pressão das entidades esportivas para que tudo ficasse pronto, superfaturamento, contratos sem licitação e o pior: a falta de um plano de ações para administrar o legado. O custo dos jogos para a Grécia, que construiu ou renovou 30 instalações, foi de US$ 28 bilhões. Instalações estas que hoje se encontram fechadas, sem que a população local possa fazer uso dela, gerando um prejuízo anual de mais de US$ 12 milhões.

Apesar do temor e de experiências ruins, há bons exemplos a serem seguidos, como os Jogos de Sidney e os de Barcelona, principalmente este último. Até 1986, ano de anúncio da cidade sede dos jogos de 1992, Barcelona era basicamente uma região industrial, com sua baía poluída e sistema de transporte deficiente. Um olhar para o local, e não para o evento, fez com que em seis anos ela se transformasse na cidade mais moderna da Espanha.

Em valores atualizados, o custo das Olimpíadas de 92 foi de pouco mais de 21 bilhões de reais. Desse total, apenas 1/3 foi destinado à construção e reforma de instalações esportivas. Os 2/3 restantes foram destinados a investimentos de infraestrutura, como 40 km de novas ruas, 220 km de rede de esgoto e novas estações de metrô. Concentrando a vila olímpica na degradada região do porto, com o fim dos jogos os prédios viraram moradia e a área ganhou bares, restaurantes e boates.

O potencial turístico da cidade explodiu depois de 1992 e se mantém forte até hoje. Barcelona recebe atualmente cerca de cinco milhões de visitantes por ano, três vezes mais que a sua população. Além do potencial turístico, os Jogos rendem outros tipos dividendos para a cidade, principalmente no sistema portuário. A revitalização da área e a despoluição da baía, fez com que o porto se tornasse o mais importante do Mediterrâneo. Enfim, um exemplo bonito, inspirador e viável. Por que não fazermos o mesmo no Rio de Janeiro?

6 comentários:

Julianna Antunes disse...

O exemplo dos Jogos Olímpicos de Barcelona para a sustentabilidade foi escrito e postado no dia 23/08/2010.

Laís Yazbek disse...

Oi Julianna!

Descobri seu blog há pouco tempo e estou tentando me inteirar sobre todos os seus posts. Primeiro, parabéns pelo blog! Você informa sobre vários cases que eu sempre quis que estivessem consolidados em algum lugar e consegue expor muito bem sobre como a sustentabilidade é tratada pelas empresas, opiniões suas que eu concordo na maior parte.

Em um dos seus posts antigos você comentou sobre o processo de trainee para quem quer trabalhar em sustentabilidade. Eu prestei vários (principalmente das empresas que tinham sustentabilidade como um valor), inclusive o próximos líderes da Natura. Mas devo dizer que são exaustivos. Quando não conseguem observar o seu perfil, parece que querem testar sua vontade de participar através das etapas intermináveis! E são cruéis ao não conseguirem dar um feedback nem para os que chegaram nas últimas etapas. Desmotivador demais. Ainda tenho dúvidas sobre o que é melhor para quem gosta do tema: ser trainee ou entrar direto para a área de sustentabilidade de uma empresa. Você foi trainee de qual empresa? Se você tiver mais informações sobre o assunto, por favor, escreva! Tenho um constante dilema sobre isso.

Obrigada!
Bjs

Julianna Antunes disse...

Oi, Laís!

Fui trainee da Unilever e justamente por não ter paciência para processos intermináveis, que me inscrevi apenas no dela. O que é difícil dos recém-formados entenderem é que programa de trainee é uma porta de entrada nas empresas, não a única. O que facilita, neste caso, é que você não precisa morar na região para se candidatar ao processo. Se eu estivesse concorrendo a uma vaga de analista, simplesmente seria eliminada porque morava no Rio. De resto, a carreira, quem faz é a gente. Vi lá dentro vários analistas virando gerente antes de trainee.

O grande segredo da sustentabilidade é que daqui a algum tempo ela será competência para todas as áreas, portanto, independente do departamento você trabalha, pode perfeitamente direcionar sua carreira para a sustentabilidade.

beijos

Laís Yazbek disse...

Obrigada pela resposta Ju!
Concordo com você.
Atualmente estou trabalhando em uma ong, mas pretendo voltar para o mercado corporativo um dia, ainda em dúvida de qual área. Por enquanto estou aproveitando a qualidade de vida e também aprendendo muito sobre educação.

Vou abusar mais um pouquinho do seu conhecimento Ju.
Estou pensando em fazer o MBA de Gestão da Sustentabilidade da GV em um futuro próximo, inclusive vi que você recomendou no blog. Você conhece alguém que já fez? Queria ter mais informações para saber se é bom.
Fiz o GVPec de Sustentabilidade e achei bem fraco, apesar do foco ser diferente do MBA.

Obrigada!
Bjs

Julianna Antunes disse...

Laís, especificamente este curso não conheço ninguém que tenha feito, mas conheço gente que fez mestrado em sustentabilidade da FGV de São Paulo e adorou. Eu dou um voto de confiança no curso, primeiro pq a Gv está muito alinhada com o mercado, coisa que nenhuma faculdade pública está, e segundo porque o trabalho do CES é incrível, de tirar o chapéu mesmo.

Laís Yazbek disse...

Muito obrigada Ju!!

Parabéns pelo blog novamente!

Bjs