Já falei aqui sobre a importância das empresas saberem quem são seus stakeholders, onde estão e como cada um deles impacta a sua operação e mesmo estratégia. Sem contar a necessidade de se manter um bom relacionamento e de tê-los como parceiros, não como adversários. Stakeholders, muitas vezes, têm um arsenal “bélico” poderoso, capaz de simplesmente acabar com um negócio.
Quem não se lembra do que aconteceu na Escola Base em 1994, quando os donos, dois funcionários e dois pais de alunos foram acusados, sem qualquer prova, de abuso sexual das crianças? A mídia, irresponsavelmente, se aproveitou de um delegado que queria seus 15 minutos de fama e destruiu a vida de seis pessoas.
O episódio da Escola Base é extremo, mas dentro do mundo corporativo é possível ver casos parecidos, com empresas tendo grandes prejuízos ou simplesmente sumindo do mapa por conta da insensatez de certos stakeholders. E isso não é tão raro não. Quantas vezes não vimos fazendas produtivas e que geram riqueza para o país sendo invadidas pelo MST?
Um episódio bem grave aconteceu em 2006, quando o Instituto Observatório Social (IOS) denunciou que a Minas Talco, empresa exploradora de minério de talco em Ouro Preto (MG), utilizava mão de obra infantil. Imediatamente após a denúncia, clientes como Faber Castell e Tintas Coral suspenderam seus contratos com a mineradora. O caso, inclusive, teve repercussão internacional.
A Minas Talco, desde o início, negou a acusação. Uma Audiência Pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas apurou que as denúncias eram infundadas. Apesar do pedido, o IOS, ONG ligada à CUT, se recusou a retificar a matéria. O resultado? Deem um Google e procurem saber o que aconteceu com a empresa.
Acho fundamental para a democracia que existam ONGs que fiscalizem empresas, que a mídia exerça seu papel de informar e que, ao menor sinal de má conduta, denúncias sejam feitas. No entanto, um princípio básico da ética e da responsabilidade pede que qualquer denúncia, antes de feita, seja devidamente apurada. Esse é o mundo ideal, que, como mostrei aqui, nem sempre acontece.
Por via das dúvidas, mesmo agindo corretamente, é muito mais seguro que uma companhia saiba de verdade quem são seus stakeholders (por mais distante que possam parecer) e mantenha um bom relacionamento com eles. Neste exemplo da Minas Talco, uma empresa de pequeno porte, será que um dia seus gestores pensaram que o IOS, cuja principal função é avaliar o comportamento das multinacionais em relação aos direitos dos trabalhadores, poderia impactar o seu negócio? Fica a lição.