Uma plataforma social relevante para o negócio: o caso da Amanco Brasil

A Amanco, produtora de tubos e conexões com 19 fábricas em 14 países da América Latina, até 2007 fazia parte do Grupo Nueva, uma holding controlada pelo suíço Stephan Scmidheyni, pioneiro na incorporação da sustentabilidade nos negócios. Antes de ser vendida à Mexichem, da área petroquímica, a principal subsidiária da Amanco, a brasileira, ironicamente tinha um braço da sustentabilidade que não ia nada bem.

A Amanco Brasil tinha uma dívida fiscal acumulada de US$ 200 milhões, e hoje, três anos depois, já é referência em eficiência operacional, sendo a número um do Grupo em faturamento e rentabilidade. Acontece que essa dívida ainda não foi sanada e por isso ela é, junto à necessidade de crescimento sustentado, o maior desafio para a nova Amanco.

Apesar de nas fusões a cultura da empresa compradora geralmente ser a que prevalece, os valores da Amanco em relação à sustentabilidade eram tão fortes, que foram mantidos. A maior evidência é que não houve, após a venda, saída de funcionários por incompatibilidade de cultura. Além disso, ter um controlador com forte preocupação financeira acabou ajudando a empresa a ter equilíbrio no triple bottom line.

Do ponto de vista social e ambiental, a Amanco Brasil sempre teve sucesso. A fábrica de Suape, Pernambuco, é modelo em ecoeficiência. Um projeto iniciado em 2001, quando a empresa começou a instalar medidores individuais de processo nas plantas de fabricação de tubos e conexões, fez com que o consumo de água na fabricação dos tubos caísse de 1.070 l/t para 230 l/t em 2008. E em Suape o consumo é de apenas 20 l/t! Com essa medida a empresa deixou de gastar U$ 20,2 milhões desde 2001.

Sabendo que 67% da decisão de compra de produtos e insumos das obras estão nas mãos dos próprios trabalhadores e não do contratante, a Amanco Brasil, aliando marketing e sustentabilidade, criou projetos que valorizam o relacionamento com esses trabalhadores. Atacando um dos maiores problemas da construção civil, que é a baixa qualificação da mão de obra, a empresa investe forte na capacitação.

Atendendo jovens que nunca trabalharam no setor, a Amanco firmou parceria com o Senai para cursos de instalação hidráulica, formando mais de 22 mil profissionais em todos os estados. No Doutores da Construção, o foco está em profissionais autônomos e conta com parceria das lojas e outros fabricantes de material de construção. Até hoje quase 50 mil trabalhadores passaram pelo programa. Há, ainda, um terceiro braço, que foca na capacitação dentro das favelas e comunidades carentes do país em parceria com o Instituto NeoTrópica, que já formou mais de 10 mil profissionais.

Atuando dessa maneira, a Amanco faz de um projeto social algo extremamente relevante para o seu negócio, sem contar nos benefícios diretos (aumento nas vendas) e no valor pela construção do relacionamento. Há, ainda, outras ações, sempre aliando sustentabilidade ao seu core business, até mais complexas, que envolve políticas públicas. Mas o que quis expor aqui foram medidas simples que podem ser feitas por qualquer empresa e gerar um impacto profundo na sociedade. Sem filantropia e sem demagogia. Apenas sustentável.