Conforme já falei aqui, supply chain é um dos processos de negócio mais importantes para a sustentabilidade nas empresas. Particularmente é uma das minhas áreas favoritas, justamente porque é onde mais se pode trabalhar o conceito. Além de aplicar o LCA (Life Cycle Assessment), redesenhar rotas, rastrear a pegada de carbono e várias outras medidas, uma das principais ações possíveis é a chamada logística reversa.
A logística reversa é um processo que cuida do fluxo de produtos, embalagens, ou qualquer outro tipo de material, desde o local de consumo até o ponto de origem. Ou seja, o inverso da logística corrente. Ela coloca o fabricante como responsável ciclo de vida de um produto, já que estes são depreciados com o tempo, param de funcionar, ou simplesmente ficam obsoletos.
Nos dias de hoje a logística reversa ganha ainda mais importância, principalmente porque estamos diante de um dos maiores problemas das cidades, sejam elas grandes, médias ou pequenas: lixo. Sem ter onde descartar ou dar destino correto aos resíduos e insumos gerado pelo crescente consumo, países desenvolvidos vêm impondo cada vez mais medidas restritivas para que as empresas sejam responsabilizadas por todo ciclo de vida de seus produtos.
Há alguns anos a Europa criou uma diretiva chamada WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment), que tem como base o princípio do poluidor-pagador. Em vigor desde 2005, a diretiva impõe que produtores e importadores de eletroeletrônicos arquem com custos de coleta seletiva, transporte, tratamento e reciclagem depois dos produtos serem descartados. O mais interessante dessa diretiva é que, por mais que seja restrita à Europa, ela impacta qualquer empresa que queira comercializar no continente.
Com essa responsabilidade em mãos, até como forma de diminuir custo, as empresas procuram reaproveitar o máximo dos produtos, insumos e resíduos coletados. Assim, a reciclagem ganha status de protagonista em um processo fundamental para o desenvolvimento sustentável do planeta. No caso da reciclagem de eletrônicos, o processo é ainda mais vital, já que as substâncias químicas utilizadas na fabricação dos equipamentos são muito prejudiciais ao meio ambiente. No entanto, o custo é altíssimo e se for responsabilidade unicamente dos fabricantes, pode inviabilizar a produção.
Em alguns países europeus, a conta da reciclagem do chamado e-waste é dividida com o consumidor, que paga uma taxa adicional para a realização do serviço. Inclusive, o valor é discriminado em nota fiscal. Mas aí pensemos em uma medida como essa na realidade brasileira, onde somos massacrados por uma carga tributária imoral. Como aplicar esse processo de forma que o consumidor não seja ainda mais onerado?