No entanto, um programa implementado antes da mudança no planejamento estratégico, é o que me chama mais atenção. Criado em 1993 na matriz do Carrefour, na França, o Garantia de Origem opera mais ou menos com as mesmas premissas do comércio justo. Funcionando como um processo de certificação, o programa rastreia produtos do campo até as prateleiras do supermercado e fornece um selo de identificação que atesta a qualidade extra.
Para conquistar o selo, o fornecedor é auditado anualmente, recebendo a visita de veterinários, zootecnistas e agrônomos que monitoram suas atividades. Critérios básicos como não utilização de mão de obra infantil e cumprimento da legislação trabalhista estão no mesmo rol de exigências como disponibilização de áreas para estoque de embalagens vazias, tratamento de água utilizada e ausência de corantes e conservantes nos produtos.
Tanto para o Carrefour quanto para os produtores, o Garantia de Origem tem se demonstrado uma decisão acertada. De acordo com o Centro de Conhecimento em Agronegócios da FEA-USP, em 2007, a venda dos produtos GO foram 11% superiores à de 2006. Sendo que em 2007 a margem de contribuição total desses produtos foi de 27%, tendo em vista a participação de cada categoria no faturamento total do supermercado. Para os fornecedores, além da garantia de compra, o selo abre portas para outros canais de venda, inclusive a exportação para outras unidades Carrefour.
O escândalo causado no ano passado por conta do documento divulgado pelo Greenpeace, que denunciava as fazendas brasileiras que desmatavam na Amazônia para a criação de pasto, fez com que o Carrefour se aliasse aos seus dois maiores concorrentes (Grupo Pão de Açúcar e Wal-Mart) para um compromisso com a sustentabilidade. Essa aliança é importante principalmente porque traz para um setor onde os resultados são medidos em curtíssimo prazo o conceito de longo prazo.
Apoiadas pela Associação Brasileira de Supermercados, as três grandes do setor (que respondem por mais de 40% do mercado varejista) suspenderam a compra de produtos bovinos oriundos de fazendas suspeitas de provocarem desmatamento. E como eu sempre venho batendo na tecla, atitudes desse tipo mostram porque a sustentabilidade é muito mais vantagem competitiva do que simples reputação ou ganho de imagem institucional.