Para um país desenvolvido, como a Alemanha, sediar um torneio da magnitude da Copa do Mundo, tem como principal legado a imagem. O que é bom também. Sem contar que foi em 2006 que a FIFA deu o pontapé inicial na responsabilidade ambiental com o Green Goal. E a Alemanha cumpriu muito bem o seu compromisso com o meio ambiente, dando uma aula de como fazer um evento para milhões de pessoas com o menor impacto possível.
Ficou evidente a melhora de alguns pontos de infraestrutura na África do Sul. Os aeroportos foram reformados, foi construída a primeira linha de metrô, assim como corredores de ônibus e estradas partindo de Johanesburgo. O investimento em saúde, com a criação de centros hospitalares nas províncias que receberam o evento, será um legado de extrema importância para um país que tem 18% dos adultos contaminados pelo vírus HIV.
A grande questão é que as exigências da FIFA são limitadas a ações que impactem o evento. Não importava para a entidade máxima do futebol se outras regiões ficariam a ver navio, caso os aeroportos internacionais, as estradas que ligam as cidades sede e o transporte para os estádios estivessem funcionando. A mesma lógica serviu para investimentos em energia e telecomunicações. Se tudo estivesse assegurado para a realização dos jogos, os gestores da FIFA não perderiam o sono se uma cidade remota sofresse de constantes apagões.
Não vou citar o legado ambiental, que basicamente ficará resumido à neutralização de carbono. Ou seja, mitigar ao invés de minimizar. Mas uma pergunta me deixa cabreira: e o tão necessário e divulgado legado social? Numa competição que custou aos cofres de um país pobre dez vezes mais do que o previsto inicialmente, a estimativa de lucro da FIFA é de US$ 3,2 bilhões. Desse montante, ela prevê U$ 96 milhões para obras sociais em todo continente. Ou seja: 3% para cumprir sua responsabilidade com a região mais miserável do mundo.
É claro que a FIFA (e estendo ao COI também) deveria fazer muito mais do que vem fazendo pelos países sede de suas competições. Mas acontece que muito da qualidade do legado que será deixado depende fundamentalmente de questões políticas. Estamos na boca de realizarmos os dois maiores eventos esportivos do mundo e temos na conta um saldo negativo dos jogos pan-americanos de 2007. Que a população fique de olho e cobre, porque se depender de política, o erro vai se repetir.