segunda-feira, 28 de junho de 2010

Quando apenas a lei não é o suficiente

Que sustentabilidade é o termo da moda no mundo corporativo, todos estão carecas de saber. O engraçado é a forma como diversas organizações lidam com o assunto. Para uma grande empresa do varejo, comandada por um famoso fundo de investimentos que também controla outras grandes empresas no país, responsabilidade social (admito, eles estão um tanto quanto defasados em relação ao conceito) é pagar imposto. E ponto. Sorry babies, pagar imposto não é responsabilidade de nada. É obrigação legal. E ponto.

Milton Friedman, papa da economia do século XX, defensor ferrenho do capitalismo que quase levou os EUA e o mundo inteiro à bancarrota, cansou de dizer que a obrigação das empresas era única e exclusivamente com seus acionistas. Já falei isso aqui anteriormente e sempre que tiver oportunidade vou repetir: o tão badalado Jack Welch lutou o quanto pode para evitar que órgãos governamentais americanos implementassem leis mais restritivas para preservação do meio ambiente. Basta lembrar o banho de administração que o Jeffrey Immelt deu logo após sucedê-lo na GE.

Mesmo hoje, com a sustentabilidade cada vez mais disseminada e aceita nas corporações, é muito comum vermos as discrepâncias e, até, má intenção por parte dos gestores. Um hábito muito comum das empresas no Brasil, um país de leis frágeis, quando pressionadas por algum dos seus stakeholders, principalmente a mídia, é alegarem que o que fazem não é ilegal.

Para a sustentabilidade a lei é muito pouco. Imagina uma grande empresa multinacional que para reduzir custo transfere toda a sua produção para, por exemplo, a China, famosa por desrespeito aos direitos humanos. Obviamente essa empresa não cometerá nenhuma ilegalidade trabalhista no país. Mas suponhamos que ela se limite a seguir as leis de lá. Contem até dez e esperem a quantidade de ONGs ativistas fazendo campanha contra essa empresa no mundo inteiro. Associou a história a alguma marca?

Vamos pegar exemplos brasileiros: o caso de Belo Monte. A lei está não apenas a favor da construção da Usina, como o governo está dando total apoio, mesmo quando a opinião pública e a sociedade esclarecida estão contra. Vamos pegar exemplos ainda mais próximos da nossa realidade: lembram-se do caos aéreo há dois, três anos? Sabe o que as grandes empresas brasileiras faziam naqueles Procons dentro do aeroporto? Mandavam estagiários com a instrução de protelarem tudo e não fazerem nenhum tipo de acordo (o que é perfeitamente legal). Quem quisesse que depois procurasse seus direitos.

Vamos pegar o exemplo de um banco que se posiciona como sustentável e teve suas operações recentemente incorporadas a um banco espanhol. Clientes, me ajudem a responder essa: na hora de resolver qualquer problema com a conta, qual o meio de comunicação que vocês utilizam de cara? Pois é, o Disque __________ (nome do banco). E quando o problema é com o cartão de crédito? Na mosca, __________ (nome do banco) Cartões.

Pois bem, para o Disque __________ (nome do banco), sabem quantas opções temos de ouvir até chegarmos ao atendente? Seis. Sabe quantas são para o __________ (nome do banco) Cartões? Onze. Isso depois de ficar mais de um minuto ouvindo a gravação falar antes de começar as opções. Mas sabem o que diz a lei do SAC?

O SAC deve garantir ao consumidor, no primeiro menu eletrônico e em todas as suas subdivisões, o contato direto com o atendente. Aí você reclama com o banco e sabe o que eles dizem? Que o Disque __________ (nome do banco) e o __________ (nome do banco) Cartões não são SAC e, portanto, não se enquadram na legislação. Além do escandaloso descumprimento da lei, (pois se atende ao cliente, com ou sem artifício é SAC) vale sempre lembrar que é o banco da sustentabilidade, que deveria ir além das exigências.

Poderia ainda citar infinitos exemplos de empresas “sustentáveis” que na hora do vamos ver, quando se é cobrada uma ação maior que o discurso, preferem falar de leis, como o caso de uma grande indústria de cosméticos que trabalha com venda de sistema de marketing direto. A empresa, sempre que questionada, já que lucra com a sustentabilidade, diz que a atividade é regulamentada e prevista em lei. E ponto. Mas deixa-me acabar o post porque senão ele fica quilométrico. Por ora digo apenas uma coisa: legais, mas imorais.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei a matéria. Parabens!
abs,

Adriana
http://sejagreen.wordpress.com/

Julianna Antunes disse...

Obrigada, Adriana!

Aproveitando, registo: Quando apenas a lei não é o suficiente foi escrito e postado no dia 28/06.