Muito se tem falado a respeito do vazamento de petróleo que ainda ocorre no Golfo do México, nos EUA. Para quem não sabe exatamente o que aconteceu, recapitulemos: Depois de dois dias em chamas, a plataforma Deepwater Horizon, de propriedade da empresa Transocean, a serviço da antiga British Petroleum, atual Beyond Petroleum, afundou em 22 de abril, deixando além de imenso rastro de óleo, onze desaparecidos.
Desde então, três vazamentos em dutos submarinos a mais de 1500 metros de profundidade despejam na área, diariamente, o equivalente a cinco mil barris de petróleo (lembrando que o problema ocorreu há duas semanas). Para se tentar ter uma noção do impacto ambiental, o estado da Louisiana abriga cerca de 40% dos pântanos e mangues dos Estados Unidos e é habitat de inúmeras espécies de aves e peixes.
Pois bem, situação contextualizada, olhemos o problema sob outra ótica, e é aí que fica o grande alerta: a ótica da sustentabilidade corporativa.
No mercado em geral, não apenas o de Oil & Gas, a BP até então tinha (ou ainda tem) uma imagem de sustentabilidade muito austera. Considerada uma das empresas mais inovadoras e visionárias do setor, (foi a primeira a enxergar que o negócio não era exploração de petróleo, mas energia) ainda no final da década de 90 ela já sinalizava preocupação com questões ligadas ao meio ambiente, mostrando interesse em biocombustíveis e buscando alternativas para minimizar o efeito das mudanças climáticas. Tudo isso quando o assunto ainda era muito pouco discutido.
Em 2006, instituições reputadíssimas como a Utopies, consultoria voltada para negócios sustentáveis, a AccountAbility, que defende a ética e a transparência na prestação de contas e a GRI consideraram o relatório de sustentabilidade da BP o modelo a ser seguido por todas outras empresas no mundo. No relatório em questão, pontos sensíveis como demissões, desmatamento e emissões de GHG foram abertamente citados, com apresentação de detalhes e estatísticas.
Ainda neste relatório, a BP mencionou um caso bastante delicado, que foi a explosão de sua refinaria no Texas em 2005, causando a morte de 15 funcionários e considerado, até então, um dos maiores acidentes da história da empresa. Opa, um acidente! Vamos pensar: em um bom relatório de sustentabilidade apontamos não apenas os nossos problemas, mas o que vem sendo feito para minimizá-los ou eliminá-los, além da gestão dos riscos do negócio.
Mesmo que a natureza do acidente seja diferente do que aconteceu em abril, o fato dele ter sido há cinco anos nos levava a crer que a BP estaria mais bem preparada para evitar que problemas dessa magnitude viessem a ocorrer, principalmente na dimensão do de agora. Acidentes acontecem, ainda mais num setor tão atrelado a riscos, como é a exploração de petróleo. Mas o que vai indicar se uma empresa está ou não preparada é tamanho que o problema vai alcançar nos dias subsequentes. E neste caso digo que a coisa está muito feia.
Cinco anos de diferença entre dois grandes acidentes é muito pouco tempo. Não estamos falando de reputação, de comunicação eficiente, de imagem, de gestão de crise ou de relatórios impecáveis. Estamos falando de uma tragédia sem precedentes que põe o mundo inteiro em alerta. São fauna e flora em risco, praias e mananciais ameaçados, navegação e pesca comprometidas, sem contar a vida econômica de toda região.
Aí vem a pergunta: seria a BP uma empresa efetivamente sustentável? Os relatórios e a opinião pública dizem que sim. Pelo menos diziam até o dia 22 de abril. Mas na real, o que, está por trás das informações contidas nos relatórios de sustentabilidade? Aliás, qual a sustentabilidade realmente praticada no dia-a-dia corporativo, que não chega à mídia e que o público jamais vai saber?