Apesar de a sustentabilidade ter muitas normas, certificações e padrões de relatórios, há alguns bons anos está em processo de lançamento da norma mais aguardada pela comunidade que trabalha com responsabilidade social corporativa, a ISO 26000. Digo alguns bons anos, pois, que eu me lembre, já tinha promessa de que em 2008 ela estaria pronta. Diferente da série ISO para o meio ambiente, ela tem caráter meramente normativo, não fornecendo certificação para a empresa ou órgão que decidir adotá-la.
Não sei exatamente quando a ISO 26000 será lançada, a última data informada foi dezembro de 2010, que já não é garantida, mas desde seu primeiro esboço ela está cercada de controvérsias. Para começar, muitos alegam que ela não tem nada de diferente, pois o conteúdo que ela propõe abordar nada mais é do que uma mistura da AA1000 com o GRI e SA8000. Outros acreditam que a International Organization for Standardization estaria extrapolando seu conhecimento e legitimidade ao propor a criação de um padrão global de responsabilidade social corporativa.
Independente do que e de como ela abordará a questão da responsabilidade social, o processo de elaboração da ISO 26000 conta com um aspecto inovador, e talvez por isso a demora em seu lançamento, já que diversos segmentos da sociedade participam de sua articulação. Num processo chamado multistakeholder, a elaboração da norma é liderada pelo Brasil e pela Suécia, onde mais de 400 experts de mais de 70 países formam grupos de trabalhos.
Os grupos de trabalho são compostos por dois tipos de delegação: as nacionais e as D-liaison. As delegações normais são formadas por stakeholders como trabalhadores, consumidores, indústria, governo, ONGs, consultores e academia. As delegações D-liaison são organizações internacionais de extrema relevância, como a OIT, GRI, OMS, UN-Global Compact, OCDE, entre outras. Aqui no Brasil, por exemplo, o Instituto Ethos faz parte como D-liaison da Rede Interamericana de Responsabilidade Social.
Dentre as decisões tomadas ao longo dos anos de discussão, as principais resoluções são de que a ISO 26000 não terá propósito de certificação, não terá caráter de sistema de gestão, não reduzirá a autoridade governamental, será aplicável a qualquer tipo e porte de organização, enfatizará os resultados e melhorias de desempenho, prescreverá maneiras de se implementar a RS nas organizações e promoverá a sensibilização para a Responsabilidade Social. Além disso, ela abordará os seguintes temas: governança organizacional, direitos humanos, práticas de trabalho, meio ambiente, práticas justas de operação, questões do consumidor, envolvimento e desenvolvimento da comunidade.
Não sigo de perto o que vem acontecendo nos grupos de trabalho ao longo desses anos, mas conheço algumas pessoas que fazem parte das delegações. Curiosamente elas têm sentimentos contraditórios em relação à ISO 26000. Enquanto os membros da academia são grandes entusiastas, o pessoal de empresa não demonstra muita animação não. Por que será, não é mesmo?