Lançada em 1999 pelo ISEA (Institute of Social and Ethical Accountability), hoje AccountAbility, a AA1000 surgiu como resposta à crescente geração de relatórios de sustentabilidade e à necessidade de mecanismos que assegurassem sua confiabilidade. Como disse no post anterior, o principal problema dos relatórios de sustentabilidade é a não obrigatoriedade de auditoria, logo, dispõe-se para o público a informação que quiser, como quiser.
A norma em questão é um ótimo instrumento de transparência e governança corporativa. Numa definição bem simples, sua função é garantir a qualidade das informações apresentadas nos relatórios, fornecendo mecanismos de avaliação e verificação de dados, principalmente para as informações não financeiras. É como se fosse uma contabilidade socioambiental. Mas ela é muito mais do que isso.
A essência da AA1000 é fundamentada na aprendizagem e desempenho social, ético, ambiental e econômico das empresas, além de apontar caminhos estratégicos para a sustentabilidade. Sua forma de atuação é baseada no relacionamento das empresas com seus stakeholders, procurando incluí-los no processo decisório da companhia.
Durante o processo, alguns dos benefícios gerados pela AA1000 são: alinhamento das atividades das empresas aos seus valores, entendimento de como os stakeholders percebem os impactos inerentes ao negócio, melhor gerenciamento de riscos e até mesmo vantagem competitiva, afinal, estamos falando de pessoas e partes interessadas que podem, simplesmente, inviabilizar um negócio.
A AA1000 é uma ferramenta muito útil não apenas para garantia dos dados informados em um relatório. Com um contato mais estreito com os stakeholders, ela também possibilita a identificação de gaps e oportunidades de atuação da empresa no que diz respeito à sustentabilidade. Além disso, os feedbacks recebidos a partir desse contato facilitam o estabelecimento de metas e indicadores de performance para a área.
Apesar de todos os benefícios proporcionados pela utilização da AA1000, ela só faz sentido de ser executada caso haja real interesse em transformar as demandas identificadas em ação, principalmente por ser um processo de administração complexa. Caso não haja esse interesse, ela perde completamente o sentido, já que há formas mais simples para assegurar a qualidade de um relatório de sustentabilidade.
Mesmo já existindo há de mais de uma década, a AA1000 é muito pouco difundida no Brasil. A única empresa que conheço que faz uso dela é a Souza Cruz, que a cada 18 meses promove os Diálogos Corporativos. Além de servirem de consolidação das informações dos relatórios, os encontros ajudam a Souza Cruz a traçar estratégias de responsabilidade social, além de avaliar a evolução dos diversos programas da área. E um projeto muito interessante que surgiu daí foi o Diálogos Universitários, cujo objetivo é complementar a formação educacional e cultural dos universitários, além de promoção do empreendedorismo jovem no país.