O Pablo, um querido leitor do blog, deixou um comentário pedindo para eu falar sobre vagas de sustentabilidade nos programas de trainee. Achei a ideia interessante e resolvi escrever. Mas digo de antemão que não sei se poderei ajudar da forma como ele imagina, já que não acompanho de perto a maioria dos processos nem o desenrolar dos programas.
No ano passado, quando a empresa ainda era uma incógnita, escrevi sobre o programa Próximos Líderes, que depois soubemos ser da Natura. Já na fase de inscrição deixava claro que buscava o drive de sustentabilidade nos candidatos. Considerei uma inovação no meio, mas, fora isso, não vi nenhuma grande movimentação das empresas a respeito do assunto, por mais que ele esteja na crista da onda.
Não sei dizer exatamente se a Natura destinou vagas para a área de sustentabilidade no programa, pois, se não me engano, a área fica junto com RH, então não sei como ficou a divisão. Aliás, até hoje não entendo muito bem o que a Natura considera sustentabilidade, pois tenho a impressão que é só responsabilidade ambiental. Enfim, que eu saiba, os programas que abriram vagas para a área foram os da Vivo e da Cargill. Mas acho que eram para o Instituto Vivo e a Fundação Cargill, respectivamente.
A grande dificuldade para os trainees atuarem em sustentabilidade é, basicamente, porque nos programas clássicos, o plano de carreira deles é de desenvolvimento acelerado. Geralmente em dois, três anos já estão aptos a assumirem cargo de gerência. Acontece que a área de sustentabilidade na maioria das empresas é muito pequena, coisa de três, quatro funcionários. Além disso, o crescimento é mais lento que em áreas core, como marketing, supply, trade ou de suporte, como finanças, RH ou TI (por mais que não assuma, a maioria ainda acredita que sustentabilidade seja sinônimo de custo).
Mas não quero que os futuros trainees fiquem desanimados. Digo isso por experiência própria. Mesmo não podendo atuar diretamente na área, há muito que se fazer no que diz respeito à sustentabilidade nos processos de negócio. É aí que se pode trilhar um caminho muito interessante dentro das empresas. Quando fui trainee, por exemplo, a área de RH queria recrutar jovens de alto potencial em comunidades carentes. Obviamente me meti no projeto, mas sem deixar de atuar na área para a qual fui contratada.
Trazendo exemplos mais recentes, a Unilever utiliza a plataforma de sustentabilidade para a linha Comfort. Um trainee de supply chain, marketing ou R&D que quiser trabalhar com a sustentabilidade, pode procurar oportunidades nessa marca. Ainda na Unilever, existe uma área chamada LIC (Low Income Consumer), que também é uma ótima oportunidade para quem é interessado no assunto.
De forma mais geral, um trainee de supply chain pode propor um projeto para mapear os fornecedores e trabalhar com eles a questão da sustentabilidade. Pode fazer o redesenho dos centros de distribuição de forma que eles fiquem em pontos estratégicos e assim a distância para clientes diminua, gastando menos combustível na entrega dos produtos e lançando menos carbono na atmosfera. Isso para ficar apenas em dois exemplos.
Um trainee de marketing pode estudar o mercado de sustentabilidade e verificar a viabilidade de lançamento de produtos dentro dessa linha. Pode ser transparente na comunicação, pode apoiar causas válidas que ajudem a melhorar o mundo e trazer retorno para a marca. Um trainee de R&D pode e deve pesquisar produtos cuja fabricação demande menor consumo de água, de energia e que gere menos resíduos. O trainee de RH pode fazer o que eu fiz, pode trabalhar com clima organizacional, qualidade de vida, projetos sociais etc.
Para uma empresa ser sustentável, não é necessário que ela tenha a área estruturada. Ajuda, é claro, mas não é fundamental. E para um trainee trabalhar com sustentabilidade, ele pode estar alocado em qualquer processo de negócio. O que vai importar no caso é a maturidade da empresa em relação ao tema e a forma como esses recursos, potenciais líderes do futuro, vão buscar espaço e fazer com que o viés da sustentabilidade esteja sempre presente na hora de negociar, de produzir e de vender.