Quando falamos em sustentabilidade corporativa, é muito comum que as pessoas pensem apenas em meio ambiente e responsabilidade social. Com algum custo elas inserem a questão financeira, apesar de muitos demonizarem o dinheiro e acharem que lucro é pecado. Acontece que num olhar micro, a sustentabilidade vai muito além do badalado triple bottom line (cujo tripé já ganhou mais uma ou duas perninhas, dependendo da vertente adotada).
Lembram quando falei de como a sustentabilidade expressa bem o chamado efeito borboleta? No nosso dia-a-dia são muitas coisas pequenas que deixamos passar em branco, muitas coisas que fazemos vista grossa, mas que, ao juntar em um grande bolo, pode virar algo insustentável. Hoje vou falar da burocracia que assola o nosso país, no quanto perdemos, principalmente, em competitividade e criatividade e no quanto isso impacta a sustentabilidade corporativa.
Alguém aqui já tentou abrir uma empresa? Posso até dizer que os prazos melhoraram, antigamente era coisa pra cinco, seis meses, quando se fazia tudo da forma correta (leia-se de forma ética). Hoje o prazo pode cair para um ou dois meses se você der sorte. Melhor do que antes? Certamente! Mas em comparação com países sérios, onde se abre uma empresa em questão de dias, uma piada. De mau gosto.
Já viram os custos? Na cidade do Rio de Janeiro, para abrir uma microempresa, o custo de papelada varia entre 700 e mil reais se a pessoa correr atrás de tudo e, repito, de forma ética. Mas esse processo é complicado. Você tem de passar pela junta comercial, pela receita federal, depois dar entrada na prefeitura. Isso tudo regado a muitas idas e vindas ao cartório (haja dinheiro!) e aos demais órgãos competentes.
Nesses órgãos, sustentados não apenas pelo dinheiro dos serviços cobrados, mas, principalmente, por dinheiro nosso via imposto, somos tratados com desprezo. A impressão que dá é que estão fazendo um imenso favor para a população. A maior vergonha desse processo é a Receita Federal não disponibilizar um telefone para tratar de questões de CNPJ e só atender no balcão até às 10 da manhã. A má vontade de funcionários que deveriam dar o exemplo beira o absurdo.
As pessoas se deslocam por quatro, cinco vezes e a cada hora recebem um tipo de informação diferente. É notório não apenas na Receita, mas na maioria dos órgãos governamentais, a falta de vontade de se resolver problemas, a falta de comprometimento e de respeito com o cidadão, com a administração pública e com o desenvolvimento do país.
Temos uma das maiores cargas tributárias do mundo e praticamente zero de contrapartida. Pessoas honestas, que tentam fazer tudo da forma mais correta possível, simplesmente são massacradas com o alto custo Brasil, com a ineficiência de serviços públicos e com o entrave da máquina burocrática que nada mais serve para frear o crescimento (sustentável, é claro) da economia brasileira.
Não sei dizer quanto pesa nos cofres brasileiros o custo da burocracia. Nesse imbróglio, separando os corretos dos malandros, muitos simplesmente desistem de legalizar um negócio, desistem de contratar pessoas com carteira assinada ou simplesmente abrem mão do princípio mais básico da sustentabilidade, que é a ética, em nome da sobrevivência.
Enfim, esse post foi um pouco de desabafo e um motivo para eu terminar minhas férias blogueiras. Estou de volta firme e forte em 2010!