Num passado não muito remoto, era comum associarmos os ambientalistas aos hippies, seja por seu estilo de vida, suas vestimentas ou apenas o grande apreço pela natureza. Ainda bem que essa fase passou e ser sustentável hoje é muito mais do que a barba por fazer, sandália rasteira do pé e o lema paz e amor no coração.
Já escrevi aqui sobre o assunto, sobre como a moda se mostra cada vez mais engajada e a preocupação pela sustentabilidade nos processos de produção. Vale relembrar que a indústria têxtil é a quarta que mais consome recursos naturais, sendo o algodão responsável por 30% dos pesticidas utilizados nas plantações de todo o mundo.
Além de todas as questões de impacto do processo produtivo da moda, também já citei o poder que ela tem de criar o hábito da responsabilidade. Mas a moda pode ir muito mais adiante. Um livro recém-lançado no país pela editora Larousse, o Eco Chic – guia de moda ética para consumidor consciente, da jornalista inglesa Matilda Lee, trata de como nós, meros consumidores, aficcionados ou não por moda, podemos ajudar a construir um mundo melhor.
Com uma série de dicas, o Eco Chic instiga seus leitores a por em prática ações bem simples. De acordo com o livro, uma camiseta lavada em água quente, secada e passada a ferro, libera 4 quilos de dióxido de carbono na atmosfera. Aqui no Brasil não é comum o hábito de lavarmos a roupa com água quente, a não ser que seja para tirar alguma mancha. Menos mal, mas ao invés de secadoras, aproveitemos o nosso clima maravilhoso e coloquemos a roupa no varal. E quanto a passar, que tal apenas as roupas de sair? Mais ecológico e bem mais econômico, não acham?
Outra dica, essa não tão simples, mas que já é bem disseminada, é a de boicotar marcas que fazem uso de condições precárias de trabalho em países subdesenvolvidos. Além dessa questão social, a autora aponta outra que quase nunca paramos para pensar: a da energia consumida e a da poluição gerada no transporte dessas mercadorias para os países consumidores. E eu ainda coloco outro ponto: privilegiando produtos locais, estamos desenvolvendo a nossa economia e a nossa sociedade.
Muito na moda entre os moderninhos, Matilda Lee aponta o consumo de roupas de segunda mão como atitude muito além de vintage. Aí entramos naquele círculo virtuoso do reciclar, reutilizar, reduzir. O que não serve mais para mim pode servir para outra pessoa. Uma peça remodelada pode ganhar cara nova e muitos outros anos de utilidade. Sem contar que aumentando a vida útil de um produto ou comprando algo de segunda mão, o seu bolso também vai agradecer.
Outra dica valiosa é evitar o uso de roupas feitas de materiais sintéticos, pois sua decomposição é bastante lenta (até 200 anos), além de liberar metano e contribuir bastante para o aquecimento global. O poliéster também deve ser evitado, pois apesar de barato, sua composição contamina o ar, a água e soltar substância cancerígena.
Por fim, sempre vou bater naquela tecla da mudança de mentalidade. Neste caso específico, o mais chique de tudo é exatamente isso. Não há sentido algum em colocar a roupa para secar em varal, não comprar nada “Made in China” e evitar as roupas feitas de material sintético ou algodão comum, se a cada estação o dedo coça para trocar tudo que está no armário.