Antes de responder a pergunta-título, é preciso entender o que vem a ser essa tão falada COP-15. Organizada pela UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change), a 15ª Conferência das Partes será realizada de 7 a 18 de dezembro de 2009 em Copenhague, na Dinamarca. O objetivo principal do encontro é discutir questões relacionadas ao aquecimento global e garantir compromisso entre os países participantes.
Com poder de voto apenas para os membros da UNFCCC e/ou países signatários do Protocolo de Kyoto, a COP permite que demais países e ONGs participem como observadores, podendo apresentar propostas, sem, no entanto, terem qualquer poder de decisão. Para a conferência desse ano, ao contrário de Kyoto, a intenção não é apenas que haja um acordo climático com metas para países ricos, mas também o compromisso de redução de emissões para países em desenvolvimento.
Recentemente, o que vem sendo noticiado pela mídia é um possível fracasso desse encontro. Especialistas temem que as propostas apresentadas durante a COP-15 sejam inferiores ao que as comunidades esperam ou ao que o planeta realmente necessita. O próprio Brasil, por exemplo, ainda não tem uma proposta definida para o encontro. Logo o Brasil, que é visto como referência no assunto!
É claro que não há mais tempo hábil para se propor mudanças estruturais no evento, mas pensemos: por que um encontro que impacta 6 bilhões de pessoas tem suas diretrizes decididas por um grupo de, sei lá, 200, 300 pessoas? É claro que seria algo infinitamente mais complexo e trabalhoso, mas e se junto de lideranças governamentais, fosse dado poder de decisão a empresas, comunidade financeira, ONGs, representantes da sociedade civil e demais stakeholders interessados?
E se ao invés de meros reguladores, os Estados fossem para a COP-15 no papel de investidores, como seria essa postura? Será que o medo do fracasso seria tão grande como agora? É muito interessante pensar na atuação dos Estados por essa perspectiva, uma vez que, de acordo Simon Zadec, fundador do AccountAbility, o custo das mudanças climáticas está na ordem de 100 bilhões de dólares anuais. E que por uma série de fatores, quem vai arcar com esse financiamento é a iniciativa pública e não as empresas ou o mercado financeiro.
Mesmo sem poder de decisão, um movimento capitaneado pelo CLG (The Prince of Wales's Corporate Leaders Group on Climate Change) criou um documento assinado pelas principais lideranças empresariais do mundo e que fora entregue durante a Cúpula da ONU em setembro de 2009. O documento é um apelo para que durante a COP-15 seja feito um acordo ambicioso, robusto e que responda de maneira realista à escala e urgência das crises enfrentadas atualmente.
Vale registrar que tanto as COPs, quanto o Protocolo de Kyoto ou outros tratados são conduzidos da mesma forma há 65 anos, quando, através do Acordo de Bretton Woods, foi estabelecido um sistema de gerenciamento econômico internacional com regras para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo. Em 1944, 44 nações definiram um sistema que pouco tempo depois criou o que hoje é o FMI e o Banco Mundial.
Na época do Acordo de Bretton, o mundo era outro e as necessidades eram muito diferentes do que vemos hoje. A marcação cerrada dos stakeholders exige uma nova postura por parte de todos os envolvidos. A velocidade da tecnologia e, principalmente, a massificação da internet, dá voz à população e permite o tão falado crowdsourcing. O mundo está de olho no que vai ser decidido pela COP-15.
Muitos ainda não têm consciência da urgência com que as mudanças climáticas devem ser tratadas. Só para dar uma noção, de acordo com documento publicado pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) em 2007, a questão pode sair do controle caso a temperatura do planeta seja superior a 2ºC em relação à fase pré-industrial. Infelizmente já estamos quase lá. E tenham certeza, as conseqüências serão terríveis para todos, seja empresa, ONG, sociedade civil ou o que for.
*** Um adendo: a ONU, numa tentativa de salvar a COP-15, lançou uma campanha global junto da Associação Internacional de Propaganda. Para saber mais sobre a campanha, basta acessar http://www.hopenhagen.org.