Há alguns meses soube de uma campanha chamada
Black Pixel Project, cuja premissa é a redução do consumo de energia ao instalar um ponto preto no monitor. Propagada pelo
Greenpeace, a iniciativa seria muito bonita caso não se escondesse atrás de alguns dados inconsistentes. O primeiro deles, é que na época de lançamento não era informado explicitamente que a redução de consumo só aconteceria caso o programa fosse instalado em monitores CRT. Acontece que, mundialmente falando, mais de 75% dos monitores são de LCD, limitando bastante o escopo do projeto.
Problema de informação resolvido, já que hoje ela aparece estampada na primeira página (não que tenha muito destaque, mas ela está lá) há outro muito mais emblemático. Com esse projeto, o Greenpeace divulga a energia economizada baseado no número de programas instalados. A questão é que não sabemos quantos desses programas instalados estão efetivamente em computadores com monitores CRT. Aliás, mesmo com a informação lá na página principal, quantas pessoas sabem o que é um monitor CRT?
Pergunto: por que ao invés de criar uma campanha de marketing desse tipo, o Greenpeace não se preocupa em conscientizar as pessoas a trocarem seus monitores? Ou então simplesmente desligá-los quando não estiverem sendo utilizados (lembro-me da ronda diária que fazia após o expediente indo de baia em baia desligar os monitores deixados em stand-by)?
Os cariocas devem se lembrar muito bem de outra furada do Greenpeace, que aconteceu em março ou abril desse ano. Na ocasião, alguns manifestantes estenderam uma faixa de protesto na ponte Rio-Niterói em pleno horário de rush, transformando o já caótico trânsito da ponte em algo incontrolável. Caos instalado, pessoas chegando atrasadas aos seus compromissos, quilos e mais quilos de carbono lançados no meio ambiente desnecessariamente.
Pergunto: quantas pessoas se posicionaram contra o Greenpeace depois deste micão? Qual o retorno efetivo que se tem com protestos? Cadê o discurso sendo transformado em ação? Quando digo que essas grandes ONGs perdem ótimas oportunidades de mobilizar as pessoas em torno de causas importantíssimas...
Outra campanha vazia, apesar de engraçadinha, foi a do
Xixi no Banho, capitaneada pela SOS Mata Atlântica. Foi uma campanha intensa. Anúncio na TV,
site bonitinho,
spot em rádio, viral. Não sei quem pagou a conta, mas de graça é que não foi. E também não foi barato. Tirando questões higiênicas que colocariam o argumento da campanha no ralo (junto com o xixi), como odor e até mesmo possibilidade de contaminação, no próprio
site há uma pesquisa que afirma que 73% das pessoas já fazem uso do recurso. Provavelmente não para economizar a água da descarga, mas pela praticidade mesmo.
Agora pergunto: faz sentido gastar tanto dinheiro para direcionar uma campanha para 27% da população? Por que não educar as pessoas a fecharem o chuveiro na hora de se ensaboar? Tenho certeza que atingiria, pelo menos, 95% delas. Ou então por que não uma campanha para que o banho dure, no máximo, 5 minutos ou uma para fechar a bica enquanto estiver escovando os dentes?
Assim como esses três casos citados, há muitos outros exemplos que usam a sustentabilidade como mero instrumento de autopromoção. Por outro lado, há, também, diversas mobilizações cujo propósito de conscientizar é efetivo, como a campanha da
Sacolinha Plástica. Também engraçadinha, ela nos mostra que, ao contrário do que muitas instituições nos fazem acreditar, as sacolas plásticas não são vilãs do meio ambiente, mas sim o seu mau uso e a falta de educação das pessoas.
Saber separar, nos dias de hoje, o que é atitude sustentável do que não passa de artifício publicitário e marketeiro, é muito importante. E é mais importante ainda quando a campanha em questão influencia uma decisão de compra ou envolve empresas que lucram com a imagem verde. Mas aí falar de greenwashing já é papo para outro post...