Por vários posts falei das ferramentas da sustentabilidade, que é o conhecimento operacional que quem quer se especializar no assunto deve ter. Citei, inclusive, algumas dessas ferramentas, como o GRI, AA 1000, Indicadores Ethos, ISO 14001... Para quem não é da área e tem um pouco de dificuldade em se familiarizar com essa sopa de letrinhas, de vez em quando escreverei sobre o que são e como funcionam essas ferramentas.
Hoje falarei da SA 8000 (Social Accountability 8000), que é uma norma voltada para a verificação de condições de trabalho nas cadeias de produção e suprimentos da empresas, sendo também estendida aos fornecedores. É importante frisar que a ferramenta é uma resposta às denúncias de abuso de direitos humanos nas fábricas localizadas nos países em desenvolvimento (lembram-se do escândalo da Nike?)
Os fundamentos da SA 8000 são baseados, principalmente, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Convenção dos Direitos das Crianças. De caráter voluntário, a norma foi criada pela SAI (Social Accountability International), uma instituição sem fins lucrativos, que, dependendo do caso, procura exigir mudanças nas políticas corporativas e em seus sistemas de gestão.
Para conquistar a certificação SA 8000, é preciso que as empresas interessadas sejam auditadas por entidades credenciadas pela SAI. O processo envolve entrevista com funcionários, acompanhamento dos auditores no trabalho, reavaliações periódicas (a cada seis meses ou um ano, dependendo do parecer inicial) e reinício das atividades a cada três anos, onde a empresa passará por uma revisão completa.
A norma já está em sua terceira edição, tendo sido revisada em 2008. De acordo com a norma de 2001, que é a que eu tenho (caso alguém tenha a atual, por favor, me mande!), os itens analisados durante a auditoria são nove: trabalho infantil, trabalho forçado, saúde e segurança, liberdade de associação e direito à negociação coletiva, discriminação, práticas disciplinares, horário de trabalho, remuneração e sistemas de gestão.
Mesmo sendo uma referência em termos de certificação para as condições do trabalho, o número de empresas certificadas é baixo. Um dos motivos é o custo. Outro motivo, afetando diretamente as empresas multinacionais, é que as leis trabalhistas são diferentes de país para país. Por mais que se procure manter um padrão, é complicado falar em igualdade de sexos num país árabe, por exemplo. Mas mesmo com as dificuldades da adesão à norma, o Brasil é o quarto país mais certificado, perdendo apenas para a Itália, Índia e China.