Para não perder o fio da meada, vou tratar de um assunto bem específico: a Copa do Mundo de 2014. Mais do que não sei quantas seleções disputando um título em estádios lotados de pessoas alegres, a Copa é uma indústria que movimenta bilhões de dólares, atua em diversos setores da economia e gera muitos empregos. Muitos mesmo. Para 30 dias de celebração mundial, ela requer anos de preparação e uma cadeia produtiva altamente impactante para o meio ambiente.
Pelo lado da construção civil, por mais que já se discuta amplamente a sustentabilidade no setor, não há como negar o brutal impacto da atividade no meio ambiente. Sem contar que para a Copa haverá a necessidade urgente de construção e reforma no setor hoteleiro e a modernização dos estádios já existentes, assim como a construção de outros estádios.
Além de atacar problemas no setor de transportes e construção, precisamos resolver problemas mais básicos do que esses. É preciso preparar toda a infra-estrutura, como a criação de uma matriz energética que seja pouco impactante, como a energia solar. É preciso construir mecanismos que possibilitem a captação da água de outras fontes, como a da chuva. É preciso, mais ainda, ter em mente que obras desse tipo são longas, caras e que podem ser comprometidas por questões políticas, principalmente em anos eleitorais.
Um documento muito interessante de se ler é o “Green Goal Legacy Report”, que é um reporte dos impactos ambientais ocorridos na Copa da Alemanha, quando o meio ambiente entrou no programa do evento pela primeira vez. A premissa, ou o “green goal” era que todos os efeitos adversos no meio ambiente associados à organização da Copa do Mundo deveriam ser reduzidos ao máximo possível.
Uma série de metas foi estabelecida nos pontos mais importantes, principalmente transporte, consumo de água e energia e mudanças climáticas. O Green Goal Legacy Report se focou, basicamente, nos impactos gerados no evento, como a redução de consumo de água nos estádios, por exemplo. No entanto, sabemos que uma torneira aberta por um turista no banheiro do seu quarto do hotel também é um impacto causado pela Copa naquela região.
E é justamente essa questão que pode fazer a grande diferença entre o que foi a Copa de 2006 e o que pode ser a Copa de 2014: o alcance da sustentabilidade. Ao contrário da Alemanha, o Brasil engatinha em infra-estrutura e desenvolvimento sustentável. Mesmo com todos os percalços políticos que obras de grande porte geram, temos uma grande chance de já começar fazendo o que é certo.
E independente dessas questões, precisamos, a sociedade como um todo, focar nos ganhos que uma Copa do Mundo proporciona ao país. E aí não falo somente no legado das construções, no legado para o turismo, nas benfeitorias de infra-estrutura, ou na melhoria na mobilidade urbana. Falo do legado de conhecimento, de know-how e de mudança de postura, tanto dos cidadãos quanto das empresas, estejam elas envolvidas com a Copa ou não.