O resultado traz à tona uma questão muito interessante: por que, quando se fala em indústria tabagista, as pessoas não conseguem dissociar a conduta da empresa do produto que ela comercializa? Não estou defendendo a Souza Cruz nem criticando o resultado da pesquisa, mas analisemos: a indústria de bebidas é tão controversa quanto a indústria tabagista e não vejo críticas para a Ambev nesse sentido (pelo contrário, ficou em oitavo lugar). Os impactos ambientais e sociais causados por mineradoras e empresas petrolíferas são infinitamente mais profundos e mesmo assim a Vale e a Petrobras são as duas empresas mais admiradas do país.
Fumar faz mal? Muito. Eu, particularmente, odeio cigarro. Mas não podemos ignorar que é uma escolha pessoal associada a riscos. E quantas escolhas de risco fazemos ao longo da vida? Você adora os chocolates da Nestlé ou não consegue resistir a um sanduíche do MacDonald’s? Segundo a OMS, a obesidade é a epidemia global do século XXI, sendo responsável pelo segundo maior número de óbitos passíveis de prevenção. E em relação à bebida, quantas pessoas inocentes morrem no trânsito todos os anos por culpa de outros que dirigem alcoolizados?
Entrando no segmento de serviços, recentemente o Bradesco e o Itaú-Unibanco foram considerados os bancos mais sustentáveis da América Latina. Você tem noção da taxa de juros cobrada por essas e qualquer outra instituição bancária no país? Experimenta ficar um ano pagando apenas o valor mínimo do cartão de crédito e depois me diga se a sua dívida é sustentável.
Apesar de polêmicos, todos esses produtos que eu citei: fumo, bebida alcoólica, chocolates, sanduíches gordurosos e juros extorsivos são perfeitamente legais. Do ponto de vista jurídico as empresas não estão fazendo absolutamente nada de errado. Em meio à toda controvérsia, o que eu acho que as pessoas podem fazer, caso se sintam incomodadas, é lutar com seus congressistas por leis mais restritivas, e, quando for o caso, punição por desrespeito às que já existem.
Em minha opinião, o produto comercializado (desde que legal) tem menos importância que a forma como a empresa conduz seus negócios. Eu estou mais interessada em saber se os funcionários trabalham em um bom ambiente, se são respeitados, se a cadeia produtiva é sustentável, se a forma de negociar da empresa é justa com todas as partes, como é a relação dela com as comunidades, se o relacionamento com as esferas governamentais é sadio, como os impactos ambientais são mitigados, se a empresa é ética, se é transparente com seus stakeholders... Desculpa social? Para mim não.