No entanto, na contramão dessa tendência, vemos um forte movimento dentro das empresas que estimula a prática do voluntariado corporativo. No ano passado, inclusive, o Rio Voluntário criou o CBVE (Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial), tendo o suporte das maiores empresas do país, como a Vale, a Petrobras, a TV Globo, a Gerdau, a Shell, entre outras.
Se pensarmos no conceito clássico do que é ser voluntário (segundo a ONU “é o jovem ou adulto que dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividade, organizadas ou não, de bem estar social, ou outros campos”), vemos um conflito entre o voluntariado corporativo e a movimentação das empresas para transformarem suas ações sociais e ambientais em atividades estratégicas.
A grande questão que envolve esse dilema é se não traria mais resultados tanto para as empresas quanto para as instituições beneficiadas caso fossem aplicados conceitos de sustentabilidade nas ações de voluntariado. O tema é polêmico, mas se hoje o investimento social das organizações é estratégico, qual o sentido de ,ao se realizar ações de voluntariado corporativo, mobilizar recursos financeiros e humanos para algo meramente filantrópico? Como transformar essa filantropia em sustentabilidade?
Para isso ser possível, é preciso planejar as ações ainda na fase de elaboração do evento (dia do voluntariado, semana do voluntariado etc). Os responsáveis pelo comitê de voluntariado (geralmente pessoas da área de sustentabilidade, de comunicação ou de RH) devem identificar dentro das instituições beneficiadas as necessidades referentes não apenas a doações, mas também necessidades estratégicas.
Por exemplo: uma ONG está com problemas de captação, mas não tem alguém com conhecimento de marketing direto para realizar as ações. Ou então a crise fez com que a demanda por atendimento de outra ONG aumentasse substancialmente de forma que a qualidade desses atendimentos tenha caído. Como voluntários corporativos podem ajudar nesses casos?
Depois de identificadas as necessidades das instituições beneficiadas, cabe ao comitê replicar as informações aos funcionários da empresa e buscar interessados em formar grupos de ação. A forma como isso acontece depende de como as empresas organizam seu voluntariado, da disponibilidade dos recursos humanos das empresas e varia de acordo com a estrutura e necessidade das instituições sociais.
É claro que ONGs, asilos, creches têm necessidades urgentes que não podem esperar. E é claro também que a filantropia não pode acabar. Essas necessidades devem ser respeitadas. Mas junto das ações imediatas, as empresas podem pensar com carinho na implementação do conceito de voluntariado sustentável, afinal, não é mais efetiva e de maior alcance uma ação que beneficie uma instituição continuamente?