Independente da motivação que leva uma empresa a adotar a responsabilidade social e ambiental, existe um grande caminho a ser percorrido para dizer que ela executa projetos sustentáveis. Mesmo estando alinhados ao planejamento estratégico, ao ISE e aos processos de negócio, os projetos, ainda assim, podem não ser sustentáveis. E aí vem a pergunta-título: o que faz um projeto social/ambiental ser sustentável?
Não saberia dar uma definição exata, mas darei um exemplo que talvez ajude a esclarecer. Suponhamos que uma indústria vai se instalar em uma cidade e começa a fazer as obras para a construção da planta. Isso gera bastante impacto e a empresa realiza diversos projetos tanto para mitigação dos impactos ambientais, quanto sociais, já que a fábrica está sendo construída próxima a uma comunidade.
Pois bem, geralmente a mitigação ambiental não tem muito que se discutir até porque é lei. Além da questão do meio ambiente é preciso lidar com a possibilidade da comunidade do entorno sofrer de um inchaço populacional, com pessoas vindas de diferentes cidades e estados, atraídas pelas oportunidades geradas com a instalação da fábrica na localidade. E se a questão não for cuidada com atenção, pode virar um grande problema para a empresa.
Assim, pelo lado social, é comum que a empresa firme parceria com a comunidade, seja contratando na localidade mão-de-obra para serviços menos especializados, seja transformando pequenos empreendimentos locais em fornecedores. Também é muito comum a realização de projetos voltados para crianças e adolescentes, seja de cunho esportivo, cultural ou educacional.
Agora pensemos: executar todos esses projetos custa dinheiro. Muito dinheiro. E é um dinheiro que terá de ser gasto enquanto a empresa estiver ali instalada. Mas e se um dia a empresa resolver tirar a fábrica daquele local? O que vai ser daquela comunidade? Além de colocar um sistema econômico local em colapso, a saída da fábrica também pode colocar um sistema social em colapso. Trágico? Não, apenas a realidade.
Lembremos a definição de desenvolvimento sustentável presente no Relatório de Brundtland: “a satisfação das necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Ou seja, comprometimento com o longo prazo. É isso que caracteriza um projeto social/ambiental sustentável.
E no caso da empresa que criou toda uma cadeia produtiva e de valor no entorno da sua fábrica? Como poderia garantir a continuidade dessa cadeia produtiva e de valor se a responsabilidade da empresa acaba com a saída da fábrica do local? Como deveria ser a condução dos projetos ao longo dos anos de forma que eles fossem sustentáveis e a descontinuidade da fábrica gerasse o mínimo de impacto para a comunidade?
Será que se ao invés de formar uma rede de fornecedores, não seria mais interessante (e sustentável) estimular o empreendedorismo, capacitando e auxiliando a comunidade na gestão de um negócio onde a fábrica fosse apenas mais um cliente? Será que ao invés de absorver a mão-de-obra não qualificada necessária, não seria mais sustentável qualificá-la para que pudesse ser utilizada não apenas na própria fábrica, mas também em outras empresas? Será que não é melhor adotar uma postura de coadjuvante no processo econômico do local do que a de protagonista, como sempre acaba sendo feito?
A construção e a operação de uma fábrica foi apenas um exemplo de como um projeto pode (e deve) ser sustentável. Na verdade, a grande pergunta que deve ser feita é qual o intuito de se gastar muito dinheiro nesses projetos se a empresa não oferece às comunidades do entorno a possibilidade de no futuro “caminhar com as próprias pernas”. Não seria mais inteligente, mais digno e até menos oneroso (porque a tendência seria a comunidade depender cada vez menos dos recursos da fábrica) se fosse feita uma abordagem mais sustentável?
Creio não ter respondido a pergunta-título deste texto. Pelo contrário, acho que lancei mais questionamentos ao invés de propor uma definição concreta. Mas esse era o intuito. As empresas têm suas próprias necessidades e cabe aos gestores das áreas sociais e ambientais procurarem um equilíbrio dentro do tripé da sustentabilidade de forma que a execução dos projetos seja satisfatória para a corporação e para as comunidades impactadas no longo prazo.