Mas afinal, quais são as responsabilidades de uma empresa ao adotar a sustentabilidade corporativa como modelo de administração? Para começar, o conceito deve estar presente já na missão, na visão e nos valores da organização. E não é apenas isso; é preciso transformar essa teoria em ação, pois não há nada mais perigoso para uma empresa que posar de boazinha, mas na realidade não fazer aquilo que diz fazer.
Depois vem a parte mais importante: remodelar os processos seguindo as premissas do triple bottom line. Para isso é necessário que a empresa identifique toda a sua cadeia de valor, desde o fornecedor de matéria prima até o consumidor final, passando pelo RH e, principalmente, pela forma como o produto é produzido (se estivermos falando de uma indústria). Neste caso, uma das áreas mais impactadas é a de supply chain.
Quando falamos de supply chain, falamos de tudo que envolve a produção de uma empresa, como logística, manufatura, compras e estoque. O primeiro passo é identificar o rastro de carbono (Carbon Footprint) deixado pelo produto depois de industrializado. Com essa informação em mãos, a empresa deve buscar soluções para reduzi-lo através de ações focadas na otimização de transporte, gerenciamento de estoques, redução de desperdício, reciclagem, aumento de eficiência operacional, gerenciamento de serviços integrados, logística reversa etc.
Olhando para outras áreas, temos no RH um processo-chave, uma vez que ele é responsável pelo principal stakeholder interno de uma organização: os funcionários. As ações envolvem principalmente qualidade de vida, cultura organizacional, comunicação interna, treinamento e recrutamento e seleção. Uma boa ferramenta para assegurar que a área está alinhada com os princípios da sustentabilidade é a certificação SA 8000, que trata das condições de trabalho.
Na área financeira, além de leis voltadas para a governança corporativa, como a Sarbanes-Oxley, que pune severamente nos Estados Unidos os que cometem infração na divulgação de informações financeiras, os bancos têm um importante aliado para exigir postura sustentável das organizações. Com objetivo de reduzir o risco dos empréstimos e assegurar melhores práticas das empresas, instituições signatárias dos Princípios do Equador adotam critérios baseados em análise de riscos ambientais e sociais para a concessão de crédito.
Apesar de polêmico, o chamado marketing social/ambiental é importante para as empresas, ainda mais quando a sociedade cobra responsabilidade das organizações. Para não cair num discurso vazio, ações focadas em ética e respeito no relacionamento com os clientes, transparência na comunicação e incentivo ao consumo responsável são algumas atitudes que a área pode adotar.
Algumas empresas já enxergam a sustentabilidade além dos processos de negócio, oferecendo ao mercado produtos como a Ecomagination, linha de tecnologia limpa da GE que um ano após seu lançamento já havia faturado mais de 10 bilhões de dólares em todo o mundo, o programa de microcrédito do Banco Real, que concede empréstimos a microempreendedores com taxas de juros equivalentes a 20% das cobradas por financeiras e os serviços de consultoria da Accenture voltados para green supply chain.
A sustentabilidade corporativa, para alguns, ainda pode ser opção. Para estes, ela é vantagem competitiva. Já para outros, ela significa sobrevivência do negócio em mercados restritivos e exigentes. A diretiva RoHS (Restriction of Hazardous Susbstances), por exemplo, proíbe na Europa a utilização de determinadas substâncias químicas na produção de equipamentos eletrônicos. Já a WEEE (Waste Electrical and Electronic Equipment) obriga as empresas que comercializam na comunidade européia a tratar do descarte do lixo eletrônico.
A questão é que, independente das razões que fazem uma organização adotar o modelo de sustentabilidade corporativa, as empresas que enxergam os benefícios já estão muito a frente da concorrência num mundo cada dia mais competitivo.